Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com

terça-feira, 15 de março de 2022

À pata aias

Crónica no Pataias à Letra, edição nº14, março 2022

 PDM – Guia para consulta (1)

A proposta para o novo Plano Diretor Municipal (PDM) de Alcobaça encontra-se em processo de discussão pública entre 14 de fevereiro e 19 de abril. O atual PDM encontra-se em vigor há 25 anos (RCM nº177/97 de 25 de outubro).

O PDM é um instrumento de gestão do território, surgido nos primórdios da década de 1980. Os primeiros PDM apresentavam como principais tendências as questões do zonamento, o subestimar o espaço rural e a despreocupação quanto à viabilização das propostas apresentadas. Como dificuldades enfrentaram a desarticulação de entidades, uma intervenção limitada quanto à definição do uso do solo e a quebra de compromissos pelo Estado Central. Os principais aspetos negativos assentavam na dispersão urbana, no abandono das áreas centrais, na ocupação de áreas com restrições e na desarticulação com políticas centrais. Acima de tudo não existia o entendimento do planeamento como um processo. Apesar disso, os PDM resultaram na infraestruturação do território, na implementação de redes de esquipamentos e no início de uma cultura de plano. Todas estas caraterísticas são comuns ao PDM de Alcobaça de 1997, ainda em vigor.

No início do novo século, um conjunto de diplomas legais introduzem alterações significativas ao nível dos processos de planeamento, da Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e Urbanismo (LBPOTU), à Política Nacional de Planeamento e Ordenamento do Território (PNPOT), ao Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT) e à Lei de Bases do Solo. Este processo normativo foi acompanhado por mudanças significativas em matéria de informação e cartografia, com a utilização da cartografia digital e a expansão na utilização dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG).

Em termos concretos, pretendeu-se que o sistema de planeamento assim criado se oriente por princípios de sustentabilidade, subsidiariedade, equidade, participação e segurança jurídica, com o objetivo de, entre outros, melhorar as condições de vida da população, preservar e defender o solo, adequar os níveis de densificação urbana e rentabilizar as infraestruturas. Os instrumentos de desenvolvimento territorial assumem assim uma natureza estratégica (PNPOT, PROT – Plano Regional de Ordenamento do Território); de política sectorial (Rede Natura, Plano Rodoviário nacional, Plano Nacional da Água); de natureza especial (Programa da Orla Costeira, Plano de Ordenamento de Albufeira e Águas Públicas); outros (Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade, Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável); e de planeamento territorial de natureza regulamentar (PDM, Planos de Urbanização e Planos Pormenor).

O atual PDM, de chamada 3ª geração, é o resultado deste Sistema de Planeamento. À semelhança dos primeiros PDM’s, o atual continua a ser constituído por três documentos fundamentais cuja consulta em simultâneo é aconselhada e obrigatória: a Carta de Condicionantes (impõe restrições à ocupação do solo), a Carta de Ordenamento (indica os diferentes usos do solo) e o Regulamento (diz como se pode usar o solo).

Na verdade, para a apresentação desta proposta, a Câmara Municipal teve de consultar 39 entidades que, na sua larga maioria, apontaram restrições de caráter vinculativo ao uso do solo e que se expressam na(s) carta(s) de condicionantes. No fim de todas essas proibições, a Câmara pôde então encaixar as suas propostas.

O atual PDM, mais que uma proposta do município, é aquilo que outros o deixam ser. (continua)