Crónica no Pataias à Letra, edição nº 25, abril 2023
O futuro deveria ser hoje
Em meados do mês de Março o Região de Cister lançou um suplemento especial sobre a União de Freguesias de Pataias e Martingança. Há sempre nestes trabalhos o efeito do “copo meio vazio/ meio cheio”, a perspetiva pessoal de quem faz o trabalho ou a limitação de espaço para colocar tudo o que se pode.
O crescimento populacional referido é uma análise redutora da realidade demográfica. O forte envelhecimento da população e a queda drástica de população jovem serão os aspetos mais significativos desta evolução demográfica. Do mesmo modo, a melhoria das qualificações académicas registadas ao longo das últimas duas décadas aproxima finalmente a freguesia aos valores registados na região.
Quando se apontam as perspetivas de investimento público, trinta anos depois continua-se a falar do crescimento da zona industrial, da reabilitação da EN242 e do saneamento básico na Mélvoa e Pisões. Já para não falar do largo da Martingança. Esta realidade dá-nos a permanente sensação de que nada é/foi feito na freguesia. Se a esta realidade se juntar o centro escolar somos obrigados a concluir pelo adiamento permanente do que poderíamos, e deveríamos ser.
Se por um lado pensamos ter alguma dinâmica industrial, ter apenas 26 indústrias entre as 250 maiores empresas na «chamada região de Cister» deve levar a uma reflexão coletiva (pública e privada, política e empresarial) sobre a verdadeira realidade do nosso tecido empresarial. Só dessa forma será possível definir um plano de ação capaz de assegurar o crescimento económico, diversidade de emprego, salários justos e bem-estar social da população.
Quanto aos apoios sociais a idosos e jovens, há uma omissão relativa à entidade que apoia cerca de uma centena de cidadãos séniores na freguesia: a Universidade Sénior. Num papel e ação diferentes do Centro Paroquial ou das Associações de Bem-Estar e Tempos Livres de Pataias e Martingança, a Universidade Sénior contribui de forma definitiva para a saúde mental e valorização pessoal de uma população cada vez mais idosa e cada vez mais em maior número e que ainda se encontra autónoma, ativa e independente. Mas como sempre, o que está bem e funciona não dá nas vistas (e não vê reconhecida a sua importância).
Quanto ao desporto, não retirando mérito ao bom trabalho do pentatlo ou à tradição do Pataiense, notas de rodapé sobre o papel do Burinhosa no futsal (esquecendo a formação) ou ignorando por completo uma modalidade muito querida entre os mais jovens e com resultados de relevo a nível regional/nacional (o voleibol) são limitadoras da realidade da freguesia.
Em suma, o trabalho feito faz-me lembrar o copo meio vazio ao som de uma cassete velha e gasta de tanto ouvida (zona industrial, saneamento, avenida…).
O que continua a faltar à União de Freguesias é uma ideia de futuro. Uma autarquia não pode limitar-se a seguir “a corrente”, a apagar fogos, a ser uma central de eventos. Há que promover em tempo útil oportunidades para o desenvolvimento de atividades económicas que diversifiquem a criação de emprego (em Pataias onde há espaço para uma incubadora de ideias e estabelecimento de micro-empresas lideradas por jovens?), a formação da população (centro escolar, espaço cultural) e o bem-estar social.
Até lá, lendo o suplemento, Pataias parece continuar com o futuro adiado.
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