Pataias, 16 de Maio de 1984. Lembram-se?
Andava eu de calções, a correr atrás de uma bola no campo do Piedade, a ir de bicicleta ou de casal duas, pelo carreiro de Vale Furado, para a praia; a pescar achigãs e sermantigas na lagoa (com um pau patareco, uma carrasca de pinheiro e miolo de broa).
A praça ainda era no Rossio, a abertura da Rua de Nossa Senhora Da Vitória uma novidade.
Ainda não havia Escola C+S e todos nós íamos alegremente na camioneta de carreira, com umas sandes de manteiga como almoço, para a Nazaré. De regresso, muitas vezes, vínhamos à boleia. A estrada era estreita e de paralelos.
Havia um banco: o Totta & Açores. Os correios eram ao pé da Galp, os supermercados a “Alice do Esquinzeiro” e a Alice Feles. O Zé Bagagem, o Zé Paulico e a taberna do Barosa. O Matreiro, o Leão e o Ronceiro ainda coziam cal.
Havia a Cibra, os Tós, o Ulisses, as Cerâmicas, o Móquinha e o Joaquim Maria. Tantos outros.
O Toino Pumpa trabalhava p’rá Junta e o Zé Vai dava pontapés atrás dos carros.
O PS local governava, impertubável. Semi-autista, arrogantemente seguro da sua expressão eleitoral.
A Filarmónica tinha acabado de completar 100 anos, a campainha da porta da Botas ainda tocava (e muito). O Moisés tinha o talho na rua do Esquim Gordo e o Esquim Hermínio o único celeiro. O Jornal de Pataias e a Casa da Cultura acabavam de nascer.
Pataias era uma aldeia grande. Na rua, as pessoas conheciam-se e cumprimentavam-se amistosamente.
25 anos depois, como é Pataias?
Muitos dos seus naturais, passam o dia longe de Pataias: Marinha Grande, Alcobaça, Leiria. As crianças frequentam a creche da Alva ou estão enfiadas na escola até às quinhentas em actividades extra-curriculares.
Já não há praça. Hoje, é o Mercado.
A Escola C+S, sede de agrupamento, congrega os alunos do Norte do Concelho de Alcobaça. Luta pela sobrevivência, pela manutenção de alunos, que se escapam para as escolas vizinhas. Sem ofertas educativas diversificadas, não pode ter alunos. Sem alunos, não lhe deixam diversificar as ofertas educativas.
Em cada esquina há um banco: Santander, BES, BPI, Millenium, Caixa Agrícola. Os serviços e algum comércio especializado adivinham-se nos primeiros andares da Av. Rainha Santa Isabel e ruas adjacentes.
As tabernas desapareceram. O mítico Café Mido mantém-se. Calmo, sereno, inalterável. Na esquina do mundo a ver passar o trânsito. À noite frequenta-se o Nostalgia, o Lake, o Gostas de Mim.
Já não há o Toino Pumpa. Hoje, os empregados da Junta são jovens, dinâmicos, com alguma instrução. Ou desempregados, ao abrigo de protocolos entre a Junta e o Centro de Emprego.
O PSD local governa, impertubável. Semi-autista, arrogantemente seguro da sua expressão eleitoral.
Os fornos de cal parecem vestígios de um povo desaparecido, de uma cultura estranha e esquecida. Hoje há a CMP. E os Tós. E uma imensidão de pequenas empresas que ainda não tiveram tempo de entrar na história da vila.
A Filarmónica continua plena de vitalidade – a música é um chamariz para os jovens. O Jornal de Pataias, depois de uma longa agonia, encontrou descanso.
Os Bombeiros têm um quartel novo com um magnífico auditório. Pataias tem saneamento básico e ETAR e uma iluminação nocturna decente. Há um pavilhão polidesportivo e umas piscinas municipais – feitas com o suor e património dos pataienses. O Pataiense tem um relvado, sintético, a igreja matriz completamente restaurada, as festas da Sra. Da Vitória as verdadeiras festas da vila.
Pataias é hoje uma vila. De cariz urbano. Igual a tantas outras por esse país fora.
Mas as transformações físicas e sociais, vistas à distância de 25 anos, são inegáveis.
Pataias deixou de ser o estrangeiro. É hoje, uma vila do Mundo.
Parabéns!
Post Scriptum – E agora? Que desafios para os próximos 25 anos?
Sabes uma coisa?
ResponderEliminarAdoro o teu blogue... Mas este texto é algo que me corta a respiração!
Continua... Estou de olho em ti...
Bjs
AB