Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Universidade Sénior de Pataias - Carta Aberta à Junta da União de Freguesias de Pataias e Martingança

Universidade Sénior de Pataias – Carta Aberta à Junta Da União de Freguesias de Pataias e Martingança

A Universidade Sénior de Pataias é, sem sombra de dúvidas, a obra social de maior impacto concretizada por esta Junta da União de Freguesias de Pataias e Martingança. É de realçar, numa época de parcos recursos, o esforço em transformar as instalações do edifício dos antigos Bombeiros Voluntários de Pataias em salas condignas para a formação, com condições equivalentes a muitas escolas públicas, no que se refere a materiais, computadores, redes wi-fi, por exemplo. Nem tudo estará bem, mas ao longo do ano, umas vezes de forma mais célere, outras nem tanto, todas as questões colocadas pelos professores e alunos (ou pelo menos aquelas que tive conhecimento) foram resolvidas.
A consequência deste esforço por parte da autarquia resulta num conjunto de população que viu subir a sua auto-estima, encontrou motivação e novos objetivos, compreendeu que a idade não é um factor limitante para aprender coisas novas, reduziu a medicação e os anti-depressivos e que fez da Universidade Sénior um segundo lar. Atualmente, Pataias podia passar sem a Universidade Sénior? Podia (se calhar…), mas não era a mesma coisa.

Este primeiro ano da Universidade Sénior de Pataias é uma aprendizagem contínua para todos: Junta, Comissão Instaladora, Professores, Alunos, sociedade. Num processo assim, faz todo o sentido fazer uma avaliação, uma aferição do funcionamento e das necessidades para que no próximo ano letivo as coisas funcionem melhor e sejam encontradas respostas às necessidades apontadas.
Neste sentido, o questionário que a União de Freguesias de Pataias e Martingança fez chegar aos alunos e professores, é na sua maioria perfeitamente inadequado e inapropriado, e em certos pontos, até ofensivo.
Começa pelas próprias classificações a atribuir: “Excelente”, “Razoável”, “Suficiente”, “Insuficiente”. Qual é a diferença entre o “Razoável” e “Suficiente”? Não há “Bom”?
O modelo de questionário apresentado não cria respostas sobre as necessidades e caminhos a trilhar de forma a melhorar o funcionamento da instituição mas avalia individualmente cada um dos atores (professores, alunos) que de forma livre, desinteressada e voluntária se disponibilizaram a participar neste projeto.
O questionário não permite perceber o que correu mal, menos bem ou até muito bem. Não permite retirar sugestões de funcionamento e de disciplinas para o futuro. Não aborda a possibilidade de aumentar o custo da propina ou a introdução de professores pagos (assunto que gerou polémica durante o ano). Ou seja, relativamente ao futuro: NADA.
O questionário está ainda desfasado da realidade do que é um projeto de voluntariado e da realidade de uma Universidade Sénior. Uma Universidade Sénior não é um projeto formal de aprendizagem e formação. 
Qual é o objetivo de pedir aos professores que classifiquem os alunos, avaliando as respetivas competências nos domínios da comunicação, da motivação, capacidade de aprendizagem, relacionamento interpessoal e dinâmica de grupo? É a negação absoluta do ideal e objetivos de uma Universidade Sénior. Quando a maior conquista da Universidade Sénior é o crescimento da autoestima individual de cada um dos alunos, qual é o objetivo de estar a rotulá-los como “Excelente”, “Suficiente”, “Razoável”, “Insuficiente”? Pessoalmente, numa turma de oito alunos, como os classificaria a todos (o que me recuso a fazer) se apenas existe um espaço disponível e comum? Estar a pedir para classificar pessoas, na sua maioria com uma baixa escolarização e alguns deles efetivamente analfabetos é descabido e desumano. Pessoas que já se encheram de coragem em frequentar as aulas e cujo primeiro comentário à ideia era: «Já sou muito velho(a). O que é que eu vou lá fazer? Não sou capaz de aprender». O que interessa à Junta a qualidade das aprendizagens de cada um dos alunos da Universidade Sénior? Alunos que lutaram contra o preconceito do analfabetismo, da iliteracia, da baixa escolarização e da idade, serão agora, em alguns casos, rotulados com o que não sabem ou não conseguem fazer? É esse o objetivo desta Universidade Sénior?
Pedir aos professores, que se ofereceram, disponibilizaram, propuseram, idealizaram e concretizaram os programas e conteúdos das suas disciplinas, para se pronunciarem sobre o interesse dos temas e a utilidade e desenvolvimento das matérias parece uma brincadeira de mau gosto. Questionar os alunos sobre os mesmos temas, alunos que podem inscrever-se, desistir, experimentar, assistir a aulas “a vulso” é, no mínimo, estranho. A pertinência dos conteúdos e das disciplinas pode ser vista pela frequência e inscrição dos alunos nas mesmas. Mais, se há alguém disposto a ensinar uma disciplina, e se há alguém disposto a aprendê-la, não será isso suficiente para justificar a sua existência?
Há ainda a questão da avaliação individual de cada professor. A distribuição de um questionário, não por aluno inscrito na universidade, mas a cada aluno inscrito em cada disciplina (o que significa que cada aluno responderá a 3, 4, 5 ou mais), só pode significar o interesse da Junta de Freguesia em avaliar cada professor. Avaliar os professores em parâmetros como a capacidade de comunicação, relacionamento interpessoal, assiduidade e pontualidade. Junta de Freguesia que parece desconhecer que de entre os professores haja profissionais com 20 anos de experiência em salas de aula, formadores ou outras pessoas para quem esta é primeira experiência de ensino. Pedir a avaliação, nestes moldes, de alguém que pela primeira vez leciona, que acredita neste projeto e que também está num processo de aprendizagem, que não sabia o que é dar uma aula, o que é um programa e qual o melhor método/ estratégia de ensino, é cruel. Humilhante, até. Parece claramente uma atitude pidesca/estalinista sobre todos os professores e o seu controle por alguém (Junta de Freguesia) que está a beneficiar do seu trabalho, empenho, disponibilidade voluntária e voluntariosa, de forma GRATUITA. A mesma Junta que parece não ter capacidade para controlar alguns trabalhadores que, esses sim, constam da sua folha de pagamentos.
Só me dá vontade de perguntar: o que vão fazer com os resultados deste questionário, no que a mim me diz respeito: vão-me despedir ou vão-me pagar?

Não estou para aturar isto.

2 comentários:

  1. Sou aluno e concordo em pleno consigo... será que querem acabar com a universidade sénior? ou querem só alguns professores e ou alunos.... não percebo.

    ResponderEliminar
  2. Sai uma Auditoria à Junta, S.F.F., ainda que da forma como tudo está "controlado" não deva valer a pena.

    ResponderEliminar