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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Pataias e suas gentes - apresentação do livro



Significado pessoal do livro

Cresci a ouvir dizer e a verificar na prática, que Pataias era uma terra sem história. Sem registos documentais ou edifícios que contassem como foi a nossa terra. De onde partimos para chegarmos ao que somos hoje.
Há 9 anos, iniciei um projeto digital porque estava longe de Pataias e, a quem estava longe como eu, não se sabia nada do que se passava aqui. Em nove anos, houve o Facebook, mas mais importante, livros sobre a Mina, as fábricas de vidro e a freguesia, teses sobre a lagoa de Pataias e a evolução do litoral e um manancial de outros documentos que a pouco e pouco ajudaram a descobrir e difundir a nossa terra.
Este é o livro que eu gostaria de ter escrito, mas que nunca teria conseguido. Não sei o suficiente, não vivi o suficiente, não pesquisei o suficiente. O Turíbio, o Humberto e o António passaram mais de 4 anos a escrevê-lo, depois de quase duzentos anos (a soma das suas idades) acumulados de vivências intensas de Pataias. E se alguém o conseguiria concretizar, eles eram dos poucos.
E assim, confesso que com alguma inveja mas extraordinariamente feliz, vejo concretizado este sonho de deixar inscrito na memória e para o futuro, a história de Pataias e acima de tudo, das suas gentes. Porque Pataias vive das pessoas, com as pessoas e – desejo – para as pessoas. E este é um livro sobre todos nós: pataieiros e pataienses.

A importância da memória e da história local

Este é um livro que escreve, pela primeira vez, a nossa história, a história de Pataias, através de documentos históricos, das vidas das pessoas e da memória.
A memória nas Ciências Humanas pode ser definida como um fenómeno social, uma vez que as relações entre os indivíduos são estabelecidas pelas formas como estes interagem entre si, através de aspetos socioculturais como as famílias, a política, a religião, as profissões, entre outros.
Jacques Le Goff defende que a memória, esta memória definida como fenómeno social, pode ser utilizada para reconstruir os factos históricos a partir de resignificações individuais.
«A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória coletiva é não somente uma conquista é também um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social é sobretudo oral ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva escrita que melhor permitem compreender esta luta pela dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da memória»
Jaques Le Goff, História e Memória
Esta memória é constituída por acontecimentos, pessoas e lugares: os acontecimentos podem ser vividos individualmente ou em coletividade; as pessoas podem ser categorizadas por personagens encontradas durante a vida ou vividas indiretamente; os lugares da memória, lugares de comemoração, ficam marcados na memória do público e de cada indivíduo.
A memória é assim o resultado de um trabalho de organização e seleção daquilo que é importante para o sentimento de unidade, de continuidade e de coerência. Ou seja, de identidade.
E o que também fala este livro é da identidade de Pataias.
A construção desta identidade implica dizer que tempo e espaço se associam para a construção de experiências humanas. Mas precisar a identidade de Pataias, para além do estabelecimento de uma relação entre o tempo e o espaço, exige o reconhecimento da herança de tradições e das histórias das pessoas que aqui vivem e viveram.
É agrupada nestas dimensões material e imaterial que se manifesta a existência deste lugar de Pataias, com capacidade de construir um processo de identificação das gerações atuais com a experiência vivida por outros sujeitos, noutros tempos. Constrói-se um património vinculado aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, às pessoas. Um património que se pretende valorizado, peculiar, mas não saudosista.

O livro

Este livro conduz-nos assim por três caminhos: a memória, a identidade e o património cultural. É esta fusão o cerne deste livro.
Independentemente da forma como se apresenta o índice deste livro, eu vejo-o agrupado em 3 grandes grupos:
Num destes grupos podemos encontrar as origens e a história do lugar e freguesia de Pataias. Da alegada doação de Alcobaça aos monges de Cister, dos forais de D. Dinis às Paredes, das memórias setecentistas ao século XIX, da evolução da freguesia através dos tempos. Encontramos ainda os diversos lugares da freguesia e a sua história.
Num segundo grupo, o contexto social: as profissões, as tradições, os costumes, as curiosidades, os conjuntos musicais. Uma visão sobre a freguesia desaparecida, do alfaiate ao lavrador, do tanoeiro à empalhadeira, do carreiro ao resineiro. Faltou o forneiro… Os conjuntos musicais, do “Conjunto Vaz” ao “Pingo Morango”, dos “Encarnadinhos” ao “Análise”. As tradições.
Num terceiro grupo: as pessoas. Quem, pelo critério dos autores, teve uma intervenção que ajudou a freguesia a ser um lugar diferente. Goste-se, ou não.
Finalmente, a reorganização do poder local e uma visão para o futuro.

Conclusão

Esta é uma obra que não se discute o conteúdo. Podemos discutir a forma, mas não o conteúdo. É um documento extraordinário de pesquisa histórica, um repositório inigualável de tudo o que Pataias foi, de muitas das gentes extraordinárias que aqui viveram.
E esse é o grande mérito, o grande legado desta obra: as pessoas. Porque, como já disse anteriormente, Pataias vive das pessoas, com as pessoas e – desejo – para as pessoas. Este é um livro sobre todos nós.
Esta obra é a mais recente, mas será a partir de hoje a primeira e fundamental referência da nossa história e das nossas gentes.
Turíbio, padrinho, Toino: por este magnífico trabalho que aqui nos deixam, muito obrigado

Pataias, 3 de agosto de 2018

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