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quarta-feira, 15 de março de 2023

À pata aias

 Crónica no Pataias à Letra, edição nº 24, março 2023


Queres? Vai ao Totta. Ah!, já não podes…

Quarenta anos depois, fechou o balcão do Totta.

Não foi o primeiro, não foi o segundo, foi já o terceiro banco a fechar portas depois de se ter instalado em Pataias.

Pessoalmente, nunca tive grandes relações com o banco e as que tive deram, quase sempre, boas estórias de como um cliente não gosta ser tratado/ atendido. Mas isso são contas de outros rosários.

O encerramento do balcão pode ser sempre visto como fazendo parte de uma política mais abrangente da banca, de encerramento de balcões (a pretexto de reduzir custos), com a crescente digitalização e a desmaterialização do dinheiro.

Por outro lado, se há 10/15 anos assistíamos a um encerramento das empresas locais e a uma atividade terciária limitada a cafés e alguns restaurantes, hoje já não se verifica isso. Longe de sermos uma referência no comércio e serviços regionais, o que é certo é que encontramos quase tudo em Pataias. Uma caminhada mais atenta pela avenida, desculpem, pelos passeios EN242, mostram-nos uma quantidade inaudita de serviços, que em alguns casos, se estendem já ao segundo piso dos edifícios. Ao nosso redor, o número de empresas tem aumentado e atualmente voltamos a viver aquela que é a realidade mais comum da nossa freguesia: na prática, o pleno emprego.

Parecem assim antagónicos estes dois movimentos: por um lado cresce a população, aumenta a procura por casa para se viver em Pataias, aumentam o número de estabelecimentos comercias e de serviços, aumenta a indústria e reduz-se a presença dos bancos.

Na verdade, não há muito que possamos fazer para reverter esta situação. Mesmo coletivamente, e com grande dependência dos bancos, cada um de nós tem uma relação comercial com bancos distintos e, com exceção do Totta e da Caixa Agrícola já nenhum está em Pataias.

Parte da questão que se coloca agora é: o que fazer? A verdade é que, como já referi, grande parte dos serviços da banca estão a ser atirados para o digital e para o on-line. O homebanking e as app’s, que tanto jeito nos dão, são os verdadeiros “culpados” deste encerramento de balcões. Mas uma vez mais, os mais idosos, mais desprotegidos e os menos preparados para o mundo digital são os que mais perdem.

Temos ainda o crescimento de serviços públicos de que são exemplo a Loja do Cidadão. Por outro, tudo o que é privado, ou melhor, tudo o que foi privatizado encerra ou ameaça encerrar. Outro exemplo foi a rocambolesca história dos CTT, do fecha não fecha, da compra do edifício e o assegurar dos serviços pela Junta de Freguesia que, depois, afinal, já não era e ficou tudo na mesma. Até à próxima.

O encerramento do balcão do Santander-Totta é assim, infelizmente, um sinal dos tempos. Antigamente, pelo interior despovoado e envelhecido, foram-se fechando serviços atrás de serviços até que a pouca população acabou por sair porque não tinha… serviços. Hoje, as novas tecnologias vão esvaziando a necessidade do atendimento presencial e mesmo em locais com alguma dinâmica demográfica e económica, os serviços vão fechando a bem dos lucros, transformado as pessoas apenas numa fonte de extorsão financeira.


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