Crónica no Pataias à Letra, edição nº 24, março 2023
Queres? Vai ao Totta. Ah!, já não podes…
Quarenta anos depois, fechou o balcão do Totta.
Não foi o primeiro, não foi o segundo, foi já o terceiro
banco a fechar portas depois de se ter instalado em Pataias.
Pessoalmente, nunca tive grandes relações com o banco e as
que tive deram, quase sempre, boas estórias de como um cliente não gosta ser
tratado/ atendido. Mas isso são contas de outros rosários.
O encerramento do balcão pode ser sempre visto como fazendo
parte de uma política mais abrangente da banca, de encerramento de balcões (a
pretexto de reduzir custos), com a crescente digitalização e a
desmaterialização do dinheiro.
Por outro lado, se há 10/15 anos assistíamos a um
encerramento das empresas locais e a uma atividade terciária limitada a cafés e
alguns restaurantes, hoje já não se verifica isso. Longe de sermos uma
referência no comércio e serviços regionais, o que é certo é que encontramos
quase tudo em Pataias. Uma caminhada mais atenta pela avenida, desculpem, pelos
passeios EN242, mostram-nos uma quantidade inaudita de serviços, que em alguns
casos, se estendem já ao segundo piso dos edifícios. Ao nosso redor, o número
de empresas tem aumentado e atualmente voltamos a viver aquela que é a
realidade mais comum da nossa freguesia: na prática, o pleno emprego.
Parecem assim antagónicos estes dois movimentos: por um lado
cresce a população, aumenta a procura por casa para se viver em Pataias,
aumentam o número de estabelecimentos comercias e de serviços, aumenta a
indústria e reduz-se a presença dos bancos.
Na verdade, não há muito que possamos fazer para reverter
esta situação. Mesmo coletivamente, e com grande dependência dos bancos, cada
um de nós tem uma relação comercial com bancos distintos e, com exceção do
Totta e da Caixa Agrícola já nenhum está em Pataias.
Parte da questão que se coloca agora é: o que fazer? A
verdade é que, como já referi, grande parte dos serviços da banca estão a ser
atirados para o digital e para o on-line.
O homebanking e as app’s, que tanto jeito nos dão, são os
verdadeiros “culpados” deste encerramento de balcões. Mas uma vez mais, os mais
idosos, mais desprotegidos e os menos preparados para o mundo digital são os
que mais perdem.
Temos ainda o crescimento de serviços públicos de que são
exemplo a Loja do Cidadão. Por outro, tudo o que é privado, ou melhor, tudo o
que foi privatizado encerra ou ameaça encerrar. Outro exemplo foi a
rocambolesca história dos CTT, do fecha não fecha, da compra do edifício e o
assegurar dos serviços pela Junta de Freguesia que, depois, afinal, já não era
e ficou tudo na mesma. Até à próxima.
O encerramento do balcão do Santander-Totta é assim,
infelizmente, um sinal dos tempos. Antigamente, pelo interior despovoado e
envelhecido, foram-se fechando serviços atrás de serviços até que a pouca população
acabou por sair porque não tinha… serviços. Hoje, as novas tecnologias vão
esvaziando a necessidade do atendimento presencial e mesmo em locais com alguma
dinâmica demográfica e económica, os serviços vão fechando a bem dos lucros,
transformado as pessoas apenas numa fonte de extorsão financeira.
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