Ocorreram nas duas últimas semanas algumas derrocadas, de significativa dimensão, nas arribas da Pedra do Ouro.
Apesar destas ocorrências serem relativamente frequentes nesta zona do litoral de Pataias, estes eventos, pela sua dimensão e localização, não deixam de ser muito preocupantes, trazendo diversas interrogações quanto à segurança das pessoas mas, também, quanto à segurança dos equipamentos e infraestruturas construídas.
As fotografias foram tiradas ontem, dia 7 de novembro de 2013.
Derrocada junto ao parque de estacionamento
O acesso automóvel ao parque de estacionamento encontra-se cortado. A sinalização no local é feita por uma frágil manga plástica.
Durante o verão, é comum os veraneantes procurarem a proximidade da arriba, nomeadamente aquando a maré alta, situação em que a praia fica mais estreita.
Junto à derrocada é visível ver uma manilha (no topo à esquerda) de escoamento de águas do parque de estacionamento e da própria estrada. O facto destas águas pluviais não terem sido emanilhadas ao longo da arriba até à praia foi também um elemento que contribuiu para o enfranquecimento e mais rápida erosão do local.
Esta derrocada, na base da arriba junto ao parque de estacionamento é um dos exemplos. Para além da destruição óbvia e do perímetro de segurança necessariamente imposto, este movimento de massa ocorreu, felizmente, num período em que a frequência e acesso à praia são praticamente inexistentes. Se fosse durante o verão, esta situação poderia ter resultado numa tragédia humana semelhante, ou até maior, à da praia de Maria Luísa, em Albufeira, em Agosto de 2009.
Tendo em consideração a localização da derrocada e o facto de ter ocorrido no parque de estacionamento da praia, esta é agora uma zona de intervenção prioritária no nosso litoral. A solução passará por uma intervenção de engenharia pesada, com um enrocamento de proteção à base da arriba, à semelhança do que foi feito em S. Pedro de Moel ou na praia da Vieira. Dadas as caraterísticas do local (arribas de materiais pouco consolidados e frágeis) e o facto de o Inverno ainda mal ter começado, é expectável que este movimento de massa não fique por aqui, aumentando de tamanho e agravando a situação até ao próximo verão.
O histórico de intervenções no nosso litoral, e se tivermos em atenção o que tem acontecido nas Paredes e a “pronta” ação da Câmara Municipal e das instituições estatais, leva-nos desde já a duvidar dessa intervenção.
Há sempre a solução de nada fazer e deixar a natureza tomar o seu curso, por outras palavras, deixar o mar atacar “à vontade” a arriba e as infraestruturas construídas. Mas até para isso é preciso ter um plano de ação e decidir o que fazer quanto, por exemplo, à classificação da praia da Pedra do Ouro como estância balnear; definir acessos à praia, estacionamento e localização do concessionário; ponderar se o investimento imobiliário na Pedra do Ouro é compatível com o desaparecimento do estacionamento e da praia. Terá a Câmara Municipal de Alcobaça respostas para tudo isto?
Deslizamento da arriba, com construções na crista da arriba
Outro exemplo de outra derrocada recente é este, localizado na base da arriba junto à Albergaria da Pedra do Ouro. Nesta situação, é possível considerar duas situações: uma relativa à própria Albergaria e aos edifícios mais antigos, efetivamente construídos num tempo em que as questões de ocupação do litoral e os problemas aí associados eram ainda pouco consideradas e a legislação respetiva praticamente inexistente.
A outra situação está relacionada com o licenciamento de novas construções, numa altura em que já existia a consciência dos problemas associados à erosão do litoral e aos grandes movimentos de massa das arribas. E face à localização destes edifícios e às derrocadas (maiores ou menores) que todos os anos aqui ocorrem, colocam-se as questões: que tipo de intervenção deve aqui ser feita? Quanto vai custar ao erário público a resolução deste problema, quer através da consolidação das arribas ou através de indeminizações para retirada das pessoas?
As más decisões ao nível do planeamento e ordenamento do território têm custos enormes, não só ambientais mas também económicos. São também uma forma de má gestão das finanças públicas. E que, aparentemente, não tem responsáveis.
Movimentos de massa mais antigos (mas relativamente recentes)
São visíveis as cicatrizes destes enormes movimentos de massa. Na crista das arribas encontram-se construções, em alguns casos, com menos de 10 anos de existência.~
Estabilidade geológica das áreas adjacentes à crista das arribas
Aqui não é visível, agora, qualquer movimento de massa. É possível ver uma pequena linha de água, que os serviços competentes dizem não existir. Na área adjacente ao topo da arriba, está previsto um empreendimento urbanístico que se encontra suspenso por processos movidos por moradores e por uma associação da Pedra do Ouro. Entre outros elementos, é contestado o licenciamento (a obra foi licenciada para a Alva da Senhora da Vitória), a correção das confrontações e o acesso à via pública (que não existe), a localização do empreendimento em zona de Reserva Ecológica Nacional e em área de proteção do POOC (Plano de Ordenamento da Orla Costeira). Como se não bastasse, outras habitações já existentes no local, mas mais afastadas da crista da arriba, registam abatimentos, em alguns casos de 8 centímetros nos últimos 8 anos. E é aqui que se pretende licenciar e construir mais um conjunto de edifícios.
Outros pequenos movimentos de massa
Aqui são visíveis um pequeno cone de dejeção (à esquerda) resultante da escorrência de águas pela superfície da arriba e uma pequena derrocada de materiais (à direita). Na crista da arriba localiza-se o largo que dá acesso ao parque de estacionamento junto à praia.
Mais um sinal evidente da instabilidades destas arribas.
Pedra do Ouro em novembro de 2012 (Fonte: SIARL, Sistema de Administração do Recurso Litoral)
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