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segunda-feira, 17 de março de 2014

Memória curta

A notícia vem hoje no jornal Público e chama a atenção para que as situações de extremos climáticos se repetem quase de forma cíclica.
As tempestades de janeiro e fevereiro, foram apenas mais um episódio daquilo que ciclicamente se passa no litoral.
Nas Paredes da Vitória, era tradição o mar chegar ao Tonico Manel. Argumenta-se agora que o mar nunca havia destruído tanta coisa.
É verdade. Mas não podemos deixar de notar que no tempo em que o mar chegava ao Tonico Manel (até há 20 anos), não havia concessionários permanentes na praia, nem estruturas de proteção dunar, nem passadiços de madeira, nem escadas de acesso à praia. Por outras palavras, não havia nada para destruir.
Outra curiosidade é a praia estar agora com o mesmo nível de 2008, antes das intervenções, como é visível através do antigo paredão e das antigas escadas de acesso à praia, agora a descoberto.
No entanto, ambas as situações não são desculpa para a quantidade de asneiras que se fizeram, nomeadamente na não correção do leito do rio em tempo útil, ou no "crime de lesa pátria" de rebaixamento da praia em mais de um metro e meio, e que, na minha opinião, foram os grandes responsáveis pela dimensão da destruição ocorrida e feita pelas tempestades de janeiro e fevereiro.
Importante é notar que toda a faixa litoral é extremamente dinâmica e que qualquer ocupação e alteração do uso do solo deve ser devidamente equacionada e ponderada, o que, de facto, até ao momento e por quase todo o litoral do país, não tem acontecido.

A notícia no jornal Público
http://www.publico.pt/ciencia/noticia/estudo-contabiliza-quase-150-tempestades-fortes-em-portugal-no-seculo-xix-1628366

Estudo contabiliza 148 tempestades fortes em portugal no século XIX

Projeto envolvendo quatro universidades está a reconstituir o clima do país nos últimos 350 anos a partir do cruzamento de várias fontes de informação. Já há alguns resultados preliminares

O mau tempo não perdoa. As marés “produziram inundações desastrosas na foz do Douro e nas praias de Ovar”. A água avançou com “força espantosa” sobre a Ericeira, arrombando muros. “Há anos que não chega a tão grande altura”. Em Torres Vedras, “em algumas povoações marítimas têm havido sinistros”. Algumas pessoas foram arrastadas pelas ondas. Na Costa da Caparica, os pescadores ficaram mais de um mês sem sustento “porque o mau tempo não os tem deixado pescar”.
Quem lê estas linhas pensa que se referem a este Inverno de 2013-2014, marcado por sucessivas tempestades e um rasto de estragos pelo país. Mas não: são relatos e notícias do século XIX. Houve pelo menos 148 episódios associados a tempestades de vento, segundo um levantamento realizado por investigadores do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.
E, em grande medida, são uma cópia do que se continua a assistir no país: inundações nas zonas costeiras, casas destruídas pelo mar, ondas que varrem pessoas, árvores caídas nas cidades, construções afectadas. “As consequências é que podem ser piores, porque a pressão humana agora é maior”, diz Maria João Alcoforado, co-autora do estudo, juntamente com David Marques e António Lopes.
Olhar para as tempestades do século XIX é uma das várias linhas do KlimHist, um projecto envolvendo quatro universidades – de Lisboa, do Porto, de Évora e de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) – que pretende reconstituir o clima em Portugal nos últimos 350 anos. O projecto vai a meio e alguns resultados preliminares são apresentados esta segunda-feira na UTAD.
O ponto de partida é 1645, o ano em que começa um período de actividade solar muito baixa, conhecido como Mínimo de Maunder. Para um passado tão distante, não há senão registos meteorológicos indirectos. Os anéis de crescimento de centenários carvalhos-alvarinhos (Quercus rubor) da Mata Nacional do Buçaco estão a ser analisados para estudar a precipitação desde o século XVII. Descrições feitas por um mercador holandês do século XVIII, Inácio António Henkell, estão a ajudar na reconstituição das cheias do Douro. Há também estudos sobre a evolução da temperatura a partir de furos no solo ou sobre a aplicação de modelos climáticos para simular eventos meteorológicos extremos no passado.

A escala de Franzini
As informações sobre as tempestades de vento no século XIX vêm sobretudo de uma fonte: os registos sistemáticos de Marino Miguel Franzini (1779-1861), um dos pioneiros da estatística e da meteorologia em Portugal. Em 1815, Franzini começou a fazer anotações sobre o clima, a pedido do médico Bernardino Gomes, intrigado com a mortalidade elevada durante os verões. Deixou duas séries de dados, de 1815 a 1826 e de 1836 a 1859, com informações sobre o estado do tempo, a temperatura, o vento, as tempestades.
Os investigadores do projecto KlimHist traçam um paralelo da escala utilizada por Franzini para medir a força do vento com a desenvolvida pelo almirante britânico Francis Beaufort mais ou menos na mesma altura. Beaufort baseou a sua escala no estado “visível” do mar – o tipo e tamanho de vagas, se formavam “carneirinhos” ou se rebentavam, a concentração de aerossóis no ar ou de espuma sobre a água, a visibilidade. Para cada combinação de sinais era atribuído um grau – de 1 a 12 – associado a uma velocidade estimada do vento.
A escala de Beaufort tornou-se muito popular, mas Franzini, embora também servisse na Marinha, não a utilizou. “É estranho que não a conhecesse”, afirma António Lopes, um dos co-autores do estudo. Desenvolveu antes a sua, primeiro com quatro níveis, posteriormente com seis.

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