Agora que se começa a viver a ressaca das europeias, com o governo a festejar a estrondosa derrota e os socialistas a lamber as feridas de uma vitória envergonhada, a assistir à implosão do Bloco, à afirmação dos comunistas e ao aparecimento do fenómeno MPT – Marinho Pinto Total (há uns anos era um tal MPT – Metódio Paga Tudo), há alguns dados que merecem uma reflexão mais profunda e exigem uma alteração de paradigmas, comportamentos e atos face a um eleitorado cada vez mais descontente. Entre eles, o valor máximo da abstenção e o número crescente de votos brancos e nulos cuja soma se assume como a quarta maior força política. Relevante ainda é que os partidos com assento parlamentar não conseguiram 80 (oitenta) por cento dos votos efetivamente expressos, sinal que as atuais propostas e respostas estão muito longe de responder aos anseios da população.
Sabemos que a particularidade das eleições europeias impõe algum cuidado para análise dos dados nacionais e locais. No entanto, não deixa de ser sintomático o resultado eleitoral registado na União de Freguesias de Pataias-Martingança, com uma vitória expressiva dos socialistas face a uma aliança PSD-CDS e a manutenção dos votos na CDU. Parece claro que o efeito de mobilização de Valter Ribeiro e Dário Moleiro tem um significativo impacto quando se trata de eleições locais, deixando a dúvida de nas eleições nacionais, não fosse o atual presidente da junta candidato elegível nas listas do PSD, se o partido do governo alcançaria resultados tão expressivos.
Mas este estado de graça do PSD parece estar ameaçado. Nas últimas eleições, a estrondosa maioria existente diminuiu e os efeitos de três mandatos consecutivos começam a acumular-se. Para além do desgaste natural há o acumular de relações e vícios que de alguma forma parecem começar a minar o edifício.
Olhando para os resultados do concelho, nestas Europeias 2014, o PS alcançou vitórias em Pataias-Martingança, Cós-Alpedriz-Montes, Maiorga e Bárrio. De uma forma global, existe efetivamente uma fronteira no concelho delimitada pelo cruzamento na Fervença. Curioso é que foram os resultados eleitorais em Pataias que evitaram o descalabro eleitoral total do PSD nas últimas autárquicas, garantindo que Paulo Inácio renovasse o seu mandato em condições de ainda alguma governabilidade.
Entretanto, ao contrário do que se passa a nível nacional, os socialistas locais, apesar de erros de casting óbvios e das tendências masoquistas e autofágicas, parecem querer ser alternativa como poder e vão fazendo o trabalho de casa. Ainda de forma insuficiente, fechada e centrada sobre o seu próprio umbigo. Mas estão a fazê-lo.
Quanto à CDU, fiel aos seus próprios princípios, vai trilhando o seu caminho de sempre, e crescendo, continua sem conseguir dar o golpe de asa e libertar-se das imagens icónicas que permitem o seu imediato reconhecimento, mas que também ensombram o seu crescimento como alternativa eficaz.
O CDS, esse anda por aí (cá por Pataias e presumo que no resto do concelho também), a fazer um discreto trabalho de sapa, nomeadamente no engrossar fileiras e no recrutamento de jovens nos seus 16-17-18-19 anos, trauteando-lhes o canto da sereia e apelando à sua energia e intervenção, à sua participação cívica para a construção de um concelho onde os jovens sejam realmente importantes…
Nos últimos doze anos, depois de um mandato inicial que foi um verdadeiro terramoto positivo no marasmo em que Pataias havia mergulhado, a atual Junta de Freguesia tem sido nos últimos tempos quase e só uma comissão de festas/ organizadora de eventos. A cumplicidade com a Câmara Municipal tem resultado num maior benefício para a Câmara do que para Pataias. Episódios como a escritura dos terrenos da lagoa de Pataias em nome da Câmara Municipal, a venda dos terrenos da Vergieira à Secil num protocolo para a construção das piscinas municipais pela Câmara ou as promessas de requalificação da Av. Rainha Santa Isabel, da cidade desportiva e do novo mercado e a construção da zona industrial na Alva de Pataias são apenas alguns dos exemplos daquilo que Pataias perdeu, ou que ao fim de 12 anos ainda não conseguiu.
Paralelamente, todas as praias, entre Água de Madeiros e a Falca, sofrem de um abandono e esquecimento compulsivo até meados da época balnear e o caos urbanístico é imagem de marca no norte do concelho. Como se não bastasse, sobre o centro escolar de Pataias paira a nuvem negra da dúvida da sua construção e, pior, o fantasma do encerramento da EB23 de Pataias e a transferência dos miúdos para as escolas de Alcobaça. Tudo feito debaixo das barbas de uma Junta que nunca proferiu, publicamente, uma palavra sobre o assunto. Assistiu, sempre, impávida e serena, consentindo com tudo e assinando por baixo a morte lenta de Pataias.
É este agora o desafio que se coloca ao PSD de Pataias. Dar ou não o murro na mesa e lutar por aquilo que Pataias e a sua população têm direito. Dar o murro na mesa e fazer valer o milhar de votos que ajudaram Paulo Inácio a manter-se no poder. Sem hesitações e sem agendas pessoais, apenas defender Pataias. Se tal não acontecer, os 16 anos do PSD à frente dos destinos de Pataias serão apenas a história das oportunidades perdidas e da subserviência inexplicável a Alcobaça.
Como referi no início, não se podem tirar ilações dos resultados das europeias para a escala local.
Mas que me parece que alguém anda a dormir e que ventos de profunda mudança se estão a levantar, lá isso parece.
E a mudança pode ser coisa boa…
No estado atual das coisas, muito boa.
Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com
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