Recebi via e-mail do Augusto Matias, com o pedido de publicação:
Senhor Presidente
Da Assembleia Geral
Da SOCIEDADE FILARMONICA RECREATIVA PATAIENSE.
Como sócio desta casa há 54 anos com o número 18, desejo dizer o seguinte:
Quando me associei á Filarmónica, era esta Sociedade a única casa de cultura em Pataias, onde se aprendia musica, se fazia teatro, com vários músicos incluídos, noites de fado com pessoal da terra, se organizavam ranchos para cortejos, para carnavais, para as quintas feiras de Ascensão na lagoa, bailes ao ar livre com grandes fogueiras a festejar os Santos Populares, e mais, e mais, e mais!!!
Foi com muita saudade desses anos, e olhando á falta dessas coisas na nossa terra, (e digo nossa terra porque me sinto um Pataiense com letra grande), que em 2003 me propus arrancar com um projecto, que segundo penso, estava a fazer muita falta em Pataias.
Fui aplaudido nesta sala, e nessa Assembleia. Fui depois de porta em porta convidar pessoas que entendi serem competentes, e gostarem desse tipo de cultura, o que consegui sem grande trabalho.
Iniciámos então uma peça de teatro, MENINO DE RUA, e uma segunda parte do espectáculo com variedades, onde fomos recolher musicas e letras de autores de Pataias, muitos deles já falecidos, mas que ainda hoje estão vivos nos nossos corações. Foram eles que nos deixaram uma cultura que tanto gostamos e defendemos. Depois outra peça ( A GUERRA NO ULTRAMAR), um flagelo do nosso País, e do nosso tempo, onde morreram muitos milhares de jovens militares, e muitos milhares de inválidos por aí ficaram. Sem culpa nenhuma foram obrigados a ir para essa guerra.
É uma passagem que não queremos fique esquecida. E na segunda parte deste espectáculo continuámos a relembrar as coisas boas que Pataias teve: As empalhações, a cal, as cerâmicas, o cimento, a passagem do REI DON DINIZ e da RAINHA SANTA ISABEL por esta terra, que teriam dado o nome a Pataias.
Procurei crianças para o grupo de teatro, para que fossem amanhã os nossos seguidores, e assim o grupo tem idades entre os nove e os oitenta e cinco anos.
Fomos fazendo espectáculos nesta nossa casa, e no fim de alguns, comíamos um lanche que cada um trazia de casa, para evitar que a colectividade tivesse despesa connosco.
Pagámos do nosso bolço o guarda-roupa que necessitava-mos, deslocámo-nos com os nossos carros, e as nossas carrinhas:
Ao Valado de Santa Quitéria, Cela, Vestiaria, Boavista, Alcobaça (cinco vezes), Carvalhal de Turquel, Marinha Grande, Burinhosa, Martingança, Maiorga, Nazaré, A-dos Pretos, Porto do Carro, Pataias Gare. Representámos no Clube D.Pataiense, nos Bombeiros de Pataias, nas festas da Vila, na festa de N.S. da Victória.
Levámos a estas terras o nome de Pataias e da Filarmónica.
Sempre que actuámos tivemos imensas palmas, davam-nos os parabéns, e recordo aqui dois casos; Em 2008 no Cine Teatro de Alcobaça depois da actuação de todos os grupos do concelho, a vereadora da Cultura da Câmara agradeceu a todos os grupos, e ao nosso grupo em particular, a maneira como representámos a peça sobre o REI D. DINIZ e sua esposa RAINHA SANTA ISABEL. No mesmo ano no Cine Teatro no Sítio da Nazaré, o Sr. Presidente da Câmara da Nazaré não só nos deu os parabéns, com a sala completamente cheia, como convidou o povo da Nazaré a criar um grupo de teatro, que a câmara os apoiaria. O grupo nasceu, com a semente que nós deixamos, e no ano seguinte tive o prazer de assistir ao primeiro espectáculo deles, com uma história sobre a Nazaré e a vida dos pescadores. Gostei muito.
Será que os milhares de pessoas que nos têm batido palmas e nos incitam a continuar são todas estúpidas, sem cultura?
Para alem de não termos explorado monetariamente esta Associação, conseguimos que cada ano a Câmara apoie o grupo com 1.500,00 euros, que a direcção se serviu do dinheiro como entendeu.
Mas não se fez só teatro!!! Mendigamos de porta em porta em Pataias e Pataias Gare. Fizemos um jantar no clube para angariação de fundos para a banda, e para o pano que está no palco, onde juntámos se bem me lembro, mais de 200 pessoas.
Fizemos aqui bailes, noites de fados, um torneio de ténis de mesa, e em colaboração com a N.U.C.A. um rastreio a diversas doenças, e até caminhadas pedestres.
Esta é a cultura que eu queria para Pataias.
Hoje há outras culturas: Os futebóis, onde os adeptos se ofendem mutuamente, brigam, destroem, roubam.
Há as casas de alterne, onde se alcoolizam, se drogam e se matam uns aos outros.
Só quem não lê jornais ou não vê televisão, não se apercebe da juventude que morre neste país com excesso de álcool e de velocidade, quando de madrugada regressam dessas culturas.
Há os dancingues, as chamadas fábricas de divórcios.
Há locais nesta terra onde se apanham bebedeiras quase diariamente, e onde se reúnem um outro grupo de cultura,
já muito antigo em Pataias!!! São os BOTA-A-ABAIXO. È a cultura daqueles que pouco ou nada têm feito para bem de Pataias!!! E assim lá foram morrendo a CASA DA CULTURA, o JORNAL DE PATAIAS, o RANCHO FOLCLORICO, as MAJORETES, A FANFARRA DOS BOMBEIROS, OS CORTEJOS que tanto ajudaram na construção da Igreja e das colectividades, e agora vai o GRUPO DE TEATRO DA FILARMONICA.
Há maneiras educadas de substituir pessoas, e não andar a fazer como Judas a JESUS CRISTO, muito amigo pela frente, e a traição por traz. Resta saber se alguém vai ter coragem, e cultura suficiente, para pedir desculpa aos lesados como JUDAS fez. Sabe-se sempre como são feitas estas cozinhadas e com que intenção, mas não havia necessidade das pessoas ficarem zangadas umas com outras, e não é essa a maneira de agradecer a quem tanto tempo dedicou a esta casa.
Não basta também a pessoa dizer-se culta, ou pensar que o é. O povo é o juiz dessa causa, e nunca se engana.
Não estou aqui a mendigar para continuar!!! As muitas noites que venho para aqui ensaiar, ás vezes com tanta chuva e frio, não me deixam saudade, o que sinto é o desgosto de nada deixarem fazer nesta terra a BEM DA CULTURA, e não conseguirem separar as quezílias lá de fora, que têm uns com outros, e transportarem para as colectividades, o local das vinganças.
Quero agradecer a todos que me acompanharam durante estes anos, e dizer-vos que não se sintam diminuídos por sermos afastados!!! Antes pelo contrário, sintam-se honrados com o que se fez.
Se assim o entender, SR PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA, junte á acta de hoje este meu desabafo, para que conste.
Muito obrigado.
Augusto de Macedo Matias
PATAIAS 20 de Fevereiro de 2010
Comentário
Antes de mais, devo dizer que não sou sócio da Sociedade Filarmónica Recreativa Pataiense.
No entanto, porque frequento aquela casa e algumas das actividades ali dinamizadas, porque conheço pessoalmente há muitos anos quase todos os elementos dos Corpos Sociais e do Grupo do Teatro, porque um dos meus filhos aí aprende música, tenho tido contacto regular com a vida daquela associação.
Também me pronuncio sobre este facto, porque acabei envolvido neste processo pantanoso quando me enviam documentos internos da Associação – declarações para acta da Assembleia Geral – com o pedido de divulgação no meu blogue pessoal.
A partir desse momento, sinto-me autorizado a pronunciar-me sobre os acontecimentos da vida interna de uma colectividade da qual não faço parte.
A Filarmónica passou por uma crise directiva, obrigando à suspensão da Assembleia Geral por 30 dias.
No plenário de 20 de Fevereiro, muito concorrido segundo rezam as crónicas, consumou-se a saída do Grupo de Teatro da Filarmónica de Pataias, aparentemente, por solidariedade com dois elementos da antiga direcção que não foram reconduzidos.
Já agora, todos os presentes na Assembleia Geral – e que inclusivamente tomaram da palavra, são sócios da Filarmónica? Diz-se por aí que não. Se assim for, como é que é possível isso acontecer?
Nessa assembleia, os elementos do Grupo de Teatro abandonaram a Filarmónica de forma livre, espontânea e por vontade própria. Não foram convidados a sair, antes pelo contrário.
Durante a Assembleia – que recordo, esteve interrompida 30 dias – foram os elementos do Grupo de Teatro, convidados a apresentar uma lista alternativa à Direcção, o que não fizeram.
Durante a eleição, a nova Direcção foi aprovada por maioria com duas abstenções – incluindo os elementos do mesmo Grupo de Teatro.
Algumas pessoas falaram-me da mágoa que sentiam com a saída do Grupo de Teatro da Filarmónica e do muito que haviam trabalhado por aquela colectividade.
Mas não foram eles que quiseram sair?
Falaram-me dos problemas pessoais e lutas políticas internas entre os elementos da antiga direcção que conduziram ao impasse directivo.
Contaram-me das intrigas e das estórias que levaram à saída do Grupo. Por solidariedade com dois elementos da antiga lista.
Leio a declaração para a acta do Augusto Matias e não deixo de me surpreender e interrogar:
- Sairam porquê? Por solidariedade com dois elementos que se incompatibilizaram politicamente com alguns dos outros elementos da Direcção?
- Foram convidados a abandonar a colectividade? Não.
- Alguma vez tal possibilidade, de abandonar a colectividade, lhes foi apontada pela antiga e ou pela nova Direcção? Não.
- Se não estavam satisfeitos com o rumo da Colectividade, porque não apresentaram uma lista alternativa?
- Não são eles que se queixam de que a politica “estraga tudo” e depois são “politicamente solidários”?
Diz-se ainda que a nova Direcção quer acabar com do Grupo de Teatro.
Nada mais falso.
Há uma proposta, desta nova Direcção, muito mais interessante, mais enriquecedora, de mais-valia para a colectividade e para Pataias.
Há um trabalho inegável, de animação cultural e de preservação da memória colectiva da nossa Terra, feito por estes entusiastas do Grupo de Teatro. Graças a eles, podemos hoje reviver memórias colectivas que se vão perdendo e das quais não há (ainda) outros registos.
Há o bichinho do Teatro, que esta dezena de pessoas, de forma entusiasta, gratuita, disponível, oferece aos pataienses.
Esse é um facto, digno de registo e de enaltecer, que merece o reconhecimento de todos os pataienses e pataieiros. Da minha parte, o meu MUITO OBRIGADO.
Mas como eu disse, há também outra proposta. A de criar um grupo cénico, dar formação a actores, levar a palco peças de teatro “convencionais”, com textos literários de créditos firmados. Acrescentar qualidade e diversidade ao Teatro feito em Pataias.
Os dois projectos não são incompatíveis, são complementares.
Mas para isso são necessárias duas coisas:
1 – Deixar de olhar para estas actividades como “quintas particulares” onde alguém se julga dono e senhor da verdade e do conhecimento;
2 – Conhecem por aí alguém com formação em Teatro, disponível para formar pessoas nas lides de palco e encenar peças de teatro?
Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com
terça-feira, 16 de março de 2010
A Filarmónica de Pataias e o Grupo de Teatro
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quer então dizer que foi uma luta de galos?
ResponderEliminarque a filarmónica está partidarizada, disso não há duvidas. é um autentico "largo do rato" tantos são os socialistas naquela casa.
mas parece-me que alguem foi manobrado no meio disto tudo e que os actores foram em fitas...
Por acaso já alguém pensou no Ivo Camocha?
ResponderEliminarPor acaso é de Pataias, gosta de teatro, tem o Conservatório e experiência.
Resta saber se está disponível.
Se sairam temos pena. Culpar outros, é facil e até fica bem. Este fim de semana houve teatro na Filarmónica representado pelo grupo cénico do Império Marinhense e tanto quanto sei, apenas três (3) elementos do grupo de teatro da Filarmónca estiveram presentes...(cerca de 70 pessoas a assistir).Paulo depois do teu comentário... faz-te sócio. Sim, porque não, o IVO? estou certo de que se a Filarmónica o convidar para conversarem e trocarem ideias sobre como realizar esse projecto, ele tem Mente Aberta e Humildade para o fazer.
ResponderEliminarA filarmonica de pataias em muito tem crescido nestes ultimos 3 anos, se as pessoas que lá estão são do partido socialista que importa? como aqui bem foi dito, a filarmonica esteve aberta a novas listas, porque não foi lá ninguém? porque é melhor acusar do que trabalhar. As pessoas que agora estão na direcção, são de pataias quiseram ajudar a associação a crescer a sair da "sepa torta", e verdade seja dita que nestes ultimos anos muita gente de fora se tem juntado a filarmonica, seja na banda como na escola de musica.
ResponderEliminarmas em todas as associações a sempre alguem que acaba por se chatiar, mas é o normal.