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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A escola primária de Pataias - que futuro?

A escola primária de Pataias
A construção do novo Centro Escolar de Pataias vem levantar uma outra questão: o que fazer com o actual edifício das escolas primárias?
O edifício é uma construção típica do Estado Novo. Igual a este edifício deve haver algumas dezenas de outros espalhados por este país. O interesse pelo mesmo (pela sua arquitectura, pela sua originalidade, pela sua concepção artística, pelo seu sentido inovador, pela sua raridade) é obviamente reduzido.
Ganham argumentos aqueles que o querem deitar abaixo (Câmara Municipal), de forma a construir um novo edifício, moderno, polivalente, ou, quem sabe, rentabilizar economicamente uma excelente área bem no centro de Pataias.
Quanto a mim, é a história de Pataias, e o seu património cultural, que estão em causa.
Há dias, consultava uma edição de livros turísticos, de aparente luxo e qualidade, quando deparei com a afirmação de «Pataias, terra recente e sem história». Sem história?
Em 1153, primeira referência à existência da Mata de Pataias.
Em 1374, Pataias é doada aos monges do Mosteiro de Alcobaça.
Em 1542, Pataias passa a sede de Paróquia.
Em 1721, havia uma contagem de «44 vizinhos» no lugar de Pataias.
Em 1942, instalação de uma central termoeléctrica em Pataias com 37 kW de potência.
Quando muito, Pataias será um lugar sem vestígios da sua (longa) história. Destruímos um coreto do início do século XX, evaporámos alegremente uma igreja do século XVI (e nem uma fotografia tirámos), rebocámos (!) o cruzeiro de Pataias, vendemos a Mata de Pataias que (segundo alguns autores) esteve na génese do Pinhal de Leiria, promovemos o abandono e degradação dos fornos da cal, eclipsámos os edifícios das antigas fábricas de vidro, reconvertemos as antigas escolas num descaracterizado quartel de bombeiros.
Somos por isso, uma «terra recente sem história».
Temos agora a oportunidade de, talvez pela última vez, preservar a NOSSA história, a NOSSA memória.
Quem nos últimos 50 anos, tendo nascido em Pataias, não frequentou aquele edifício? Vamos apagar 50 anos de memórias de toda uma população?
É evidente que face às necessidades actuais – e futuras –, provavelmente o edifício não é capaz de servir nas melhores condições. Mas para isso há a REQUALIFICAÇÃO (forma de intervenção que consiste na adaptação da estrutura física dos imóveis a um uso diferente daquele para que foi concebido tendo em conta as necessidades do momento), que pode até significar a ampliação do edifício e/ou a construção de novos módulos acoplados. Não a sua destruição.
Um edifício onde possa funcionar a Junta de Freguesia, uma auditório/sala de espectáculos, salas de exposições, biblioteca/ centro documental da freguesia/ centro multimédia, tantas outras coisas. O prometido Centro Cultural. E porque não atribuir a algumas das (reconstruídas) salas os nomes de alguns professores que durante décadas ajudaram a construir as nossas memórias (Sala Professor Jaime Madeira, Sala Professora Ália “Botas”, dois exemplos entre outros)?
Manter o edifício das escolas primárias é um imperativo colectivo moral.
A bem da nossa memória histórico-cultural colectiva.
A bem de Pataias.

4 comentários:

  1. ...quem disse que as escolas do estado novo, nao sao patrimonio arquitectonico?.. se todos penssassem assim em breve estas seria uma raridade!!!
    existem mil e uma funçoes numa reabilitaçao... mas ja se sabe que deitar tudo abaixo e construir de novo gera "mais dinheiro"....

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  2. E irradicámos ainda o poço do Largo da Enxurreira e do Rossio d`Alonça, e assim também se vai a nossa história recente. É por estas, que o que vier a ser feito, seja pensado e realizado numa ESTRATÉGIA INTEGRADA, e não, em actos isolados nem que para isso tenhamos que esperar algum tempo.Vamos ser orgulhosos da NOSSA terra.

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  3. Caro anónimo

    O período do Estado Novo tem um vastíssimo conjunto de obras e arquitectos que em nada ficam atrás dos grandes nomes da arquitectura contemporânea.
    No caso do edifício das escolas primárias o grande interesse na sua manutenção é principalmente a preservação das nossas memórias, o que inclui a "memória visual" de um Portugal das décadas de 1950/1960.

    Amiga Árrã

    Se bem me lembro, o tapar do poço do Largo da Enxurreira valeu algumas reuniões públicas exaltadas, chegando-se a uma situação de compromisso (o poço ainda está lá debaixo de uma tampa de esgoto).
    Foi das poucas vezes onde se discutiu pública e abertamente Pataias e se encontrou uma solução de compromisso entre todos.
    Se calhar, quando um dia se decidir sobre o futuro do antigo edifício dos bombeiros, era uma boa altura para pensar na reabilitação do poço.

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  4. Boa tarde, alguém me sabe dizer onde posso encontrar a professora Ália " Botas" Obrigada

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