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sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os riscos geológicos no litoral de Pataias - Pedra do Ouro

A edição do Jornal de Leiria nº1359 de 29 de Julho de 2010 traz uma reportagem sobre os riscos existentes nas praias da região.
http://www.jornaldeleiria.pt/portal/index.php?id=5043
Do mesmo artigo, coloco um excerto relacionado com a Pedra do Ouro.

Construção em cima de arribas agrava erosão

Para o geógrafo José Nunes André, o recuo erosivo da costa não se resolve com obras de engenharia. O especialista reconhece que não é um combate fácil, mas defende que parte da solução passa por travar a construção em zonas de risco. Esse é também o entendimento do presidente do núcleo de Ourém da Quercus. Domingos Patacho considera “vergonhoso” que se continue a “sobrecarregar arribas já frágeis com novos empreendimentos”. E dá o exemplo da Pedra do Ouro, em Alcobaça, onde está em processo de licenciamento uma zona de moradias em banda, com cerca de 30 fogos a aproximadamente 50 metros de uma falésia, num terreno que está parcialmente classificado como zona urbana. “Um dia destes, os contribuintes serão chamados a pagar para suster aquela falésia”, adverte o ambientalista, que diz perceber que as câmaras gostem de aumentar as suas receitas, mas defende que tal “não pode ser feito a qualquer custo”. 

Transcrevo também excertos de um artigo científico apresentado no recente VIII Congresso Nacional de Geologia.
O artigo intitulado “Avaliação da susceptibilidade a movimentos de massa nas arribas costeiras entre S. Pedro de Moel e a Praia da Polvoeira”, tem como autores A.O. Tavares, L.V. Duarte e C. Duarte, todos da Universidade de Coimbra, Departamento de Ciências da Terra.
O artigo, na sua totalidade, pode ser consultado aqui:
http://metododirecto.pt/CNG2010/index.php/vol/article/viewFile/189/205

A orla costeira ocidental portuguesa apresenta inúmeros pontos críticos relacionados com a instabilidade das suas arribas (Marques, 2008). Um dos sectores em que estão assinalados movimentos de instabilidade sob a forma activa ou latente é o localizado entre a Praia Velha, em S. Pedro de Moel, e a Praia da Polvoeira, a sul (Dias et al, 1994; DRAOTC, 2002; Lopes, 2003; Duarte, 2007), nos concelhos de Marinha Grande e Alcobaça.
[…]
A relevância da análise da instabilidade associada às arribas calcárias costeiras neste troço está materializada pelo histórico de movimentos de massa que tem alterado a morfologia costeira com o deslizamento ou desprendimento de elevados volumes rochosos com incidência no património geológico e paisagístico, nas condições de acesso, circulação e permanência nas arribas e no areal das enseadas e cordão longilitoral, mas mais recentemente afectando o espaço urbano construído e as infra-estruturas em S. Pedro de Moel, Água de Madeiros e Pedra do Ouro.
[…]
O grau de susceptibilidade observado em cada troço, apresentado na Figura 1, mostra uma maior incidência a norte de S. Pedro de Moel e entre as praias de Água de Madeiros e a Pedra do Ouro. O reconhecimento dos processos de
instabilidade sob a forma activa ou latente, permitiu individualizar quedas de blocos, desprendimentos, deslizamentos translacionais e deslizamentos rotacionais superficiais.
[…]
Os dados agora apresentados demonstram a elevada susceptibilidade relacionada com movimentos de massa na faixa costeira entre as praias Velha e da Polvoeira, nomeadamente afectando as arribas calcárias, indiciando a instabilidade potencial a partir de movimentos activos ou na forma latente. Este trabalho demonstra a necessidade da implementação de medidas de estabilização em algumas arribas, nomeadamente em contexto urbano, de adopção de medidas de prevenção e redução do risco através da monitorização de alguns troços com movimentos activos, a protecção para com projecções de blocos ou desprendimentos localizados, o aviso e alerta na circulação e permanência na crista ou na base das arribas.


Será fácil relacionar o risco existente nas arribas da Pedra do Ouro com o processo de licenciamento de uma zona de moradias em banda, com cerca de 30 fogos a aproximadamente 50 metros de uma falésia, num terreno que está parcialmente classificado como zona urbana.
O risco está identificado. Valerá a pena?

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