Na origem de Pataias
Tal como a Pedra da Paciência,
Afirmou-se a Enchurreira
Sempre com grande sapiência
A Enchurreira sempre teve
Gente com grande valor,
Desde gente muito anónima
Ao Madeira Professor
A Ti Inácia da Farinha
Parteira de tanta gente,
E a Ti Maria da Tia
Que foi parteira igualmente
Com jornaleiros ao sol
À espera do patrão,
Lá no Largo da Enchurreira
P´ra levar o ganha-pão
Noutros tempos a Enchurreira
Era toda animação,
Hoje parece um deserto
No meio do Camarção
Era o Santos Leopoldino
Era o Afonso “Chiné”,
Era o Mocho e o Guímaro
Ninguém se aguentava em pé
O Sardão com habilidade
À bola jogava bem,
O Toino Pumpa muito engraçado
Era catita também
E os bandos da garotada
Que invadiam a vinha,
Pois não tinham fruta em casa
Era só broa e sardinha
No largo da Escola ou no Adro
Tudo servia p´ra dar um chuto,
E depois p´ra tomar banho
Vinha o tanque do Albino Charuto
Toda a gente se governava
No casal não havia azelhas,
Até o Ti Albertino berrava
“Nem que me caiam a orelhas!”
Era escola, era fonte
Era Casal de brincadeira,
Era cabine de eletricidade
Mesmo junto ao Zé Neira
Na fogueira do Natal
Junto ao poço da Enchurreira
Era garrafa d´aguardente
A arranjar a “boadeira”
O Esquim Alfredo batia sola
Lá no Beco do Canal
Na pia lavando os dentes
Com o carvão do Natal
A abertura da água pé
Na adega do Zé Palhinta
Era acontecimento tal,
Não há ninguém que desminta
Eram os Abéis e os Carelhas
Eram os Bagagens e os Pesqueiras,
Eram os “traçadinhos” p´rás velhas
E as monumentais bebedeiras
Era um Casal de sapateiros
Do Zé da Quinta aos Alfredos,
E ainda o Toino da Noémia
E a Ascensão dos bruxedos
Eram as castanhas do Pacá
E os caranguejos da Beatriz
Era o burro da Margulha
E o Felpo com o seu anis
Por tudo isto afinal
É que a Enchurreira é assim,
Um sítio tão especial
Que me faz ter orgulho em mim!
António Gonçalves
Sem comentários:
Enviar um comentário