A notícia na edição 1009 do Região de Cister de 20 de dezembro de 2012
“Há uma grande revolta no seio da população da Martingança”
Aquele que se arrisca ser o último presidente da Junta da Martingança assegura que a população não vai cruzar os braços na luta contra o regresso à freguesia de Pataias, mas privilegia a via do diálogo para o conseguir.
REGIÃO DE CISTER (RC ) > Segundo a lei da reorganização administrativa a Martingança voltará a ser integrada na freguesia de Pataias. Sente-se o último presidente da Junta da Martingança?
FERNANDO ESCUDEIRO (FE) > O que sei é que este é o meu último mandato na Junta. Se me pergunta se me sinto como o último presidente da Junta da Martingança, respondo que ainda não estou convencido que a lei venha a ser aplicada. Estou a favor de uma reforma administrativa, porque o nosso País necessita, efetivamente, que reformas na administração local, mas não faz sentido que ela seja feita através do Governo ou da Assembleia da República. Aceito que tenham assinado com a troika um compromisso que obriga a cortes nas autarquias, mas está provado que não é a extinção de freguesias que resolve o problema do défice das contas públicas. Não são as freguesias as causadoras do problema em que o País se encontra, mas sim quem esteve no Parlamento durante todos estes anos. Sabemos que 97% dos presidentes de Junta são voluntários e, por isso, continuo sem perceber as razões que fundamentam esta opção do Governo. Há muita coisa a fazer em relação às freguesias no aspeto de lhes dar mais competências, mas isto não se compreende.
RC > O deputado Valter Ribeiro (PSD ), que também é presidente da Junta de Pataias, votou a favor do projeto-lei. Não existirá um conflito de interesses?
FE > Sinceramente, penso que não. Além disso, a sensação que tenho é que Pataias - e estou a referir-me ao elenco da Junta - não terá grande interesse na agregação com a Martingança. Em que medida? Na medida em que Pataias é uma freguesia extensa, não tem um presidente de Junta a tempo inteiro e assim terá maior dificuldade na prestação de serviços à população da freguesia.
RC > O que lhe vai transmitindo a população da Martingança relativamente a este processo?
FE > Há uma grande revolta no seio da população, mas vou apelando ao bom senso, porque sou daqueles que entendem que os problemas só se resolvem quando as pessoas se sentam à mesa e são capazes de chegar a consensos. Só os burros não são capazes de se sentar e entenderem. Tenho transmitido muita calma às pessoas, dizendo-lhes que vamos resolver o assunto e continuamos empenhados na nossa luta. Vamos, no próximo sábado, para Lisboa, às imediações da residência do Presidente da República e vamos tentar com que a nossa voz seja ouvida. Há várias providências cautelares de Juntas de Freguesia e nós também vamos meter a nossa.
RC > A Martingança é hoje uma freguesia profundamente diferente daquela que ganhou autonomia em relação a Pataias. A população entenderá este retrocesso?
FE > Há dias, o presidente da Câmara da Marinha Grande [Álvaro Pereira] disse a um jornal que estaria na disposição de receber a freguesia da Martingança. Mas, pergunto: quem foi ter com a Marinha Grande? A verdade, e ele também o disse nessa entrevista, é que a Martingança está muito diferente do que era há 28 anos. Criaram-se infraestruturas, temos 40 empresas instaladas que dão emprego a mais de 1.000 pessoas, temos serviços sociais, um balcão de uma instituição bancária. A Martingança foi a freguesia que, a par de Alcobaça, mais cresceu em termos populacionais nos últimos Censos no concelho. Convocados pela Anafre, estivemos em todas as frentes a lutar contra esta lei. E vamos continuar.
RC > Como classifica a atuação do executivo camarário nesta matéria?
FE > Tenho grande estima por Paulo Inácio. É uma pessoa séria e honesta, com quem trabalhei desde o início. Fomos a primeira e única freguesia a responder ao Livro Verde e as outras só responderam quando perceberam que podiam ser atingidas. Transmiti à população o que o presidente da Câmara sempre me transmitiu: que a Martingança se iria manter. Ainda antes da reforma administrativa houve uma tentativa de Cós, Montes e Alpedriz se juntarem e quando surge a lei essa possibilidade manteve-se e foi reforçada com a proposta do presidente da Câmara. Se me pergunta se Paulo Inácio fez tudo o que estava ao alcance para evitar o que sucedeu? O que digo é ele e o presidente da Assembleia Municipal [Luís Castelhano] acreditaram em demasia que tinham o problema resolvido. Mas quando Cós, Montes e Alpedriz, que andaram a pedir para se juntar, voltaram atrás, o presidente da Câmara devia ter dado dois murros na mesa! Todos nós, autarcas das freguesias, acreditamos que esta lei é inconstitucional. Se se provar, volta tudo atrás. Espero que impere o bom senso.
Autarca exige solução
“Fecharam-nos a extensão de saúde calada da noite”
O encerramento da Extensão de Saúde da Martingança continua a revoltar Fernando Escudeiro. O presidente da Junta lamenta a forma como decorreu o processo, criticando a atuação daqueles que “prejudicaram as pessoas” da freguesia.
“Aquando das obras de remodelação da Extensão de Saúde de Pataias pediram-nos que os utentes pudessem ser atendidos na Martingança, o que aceitámos de bom grado. Inicialmente, as obras estavam previstas durar dois meses, mas passou-se mais de um ano. Entretanto, soubemos que o vice-presidente da Câmara [Hermínio Rodrigues] exigiu que a Extensão de Saúde de Pataias reabrisse, devido à pressão da população. E foi então que, na véspera dessa reabertura, pela calada da noite, levaram-nos os equipamentos todos e fecharam-nos a Extensão de Saúde”, recorda o autarca eleito pelo PSD, que sublinha tratar-se de “um encerramento provisório, que está a tornar-se permanente”, com evidentes “prejuízos para a população da Martingança”.
Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário