Este ano, os trabalhos foram iniciados bem antes do início da época balnear, com a limpeza do lixo na praia (mais que uma vez), no limpar e peneirar da areia, no corte de pequenas ervas e na aplicação de herbicidas ao longo dos passeios, na limpeza do espelho de água, no tapar a escola primária.
No entanto, fruto daquilo que aconteceu no inverno, mas também, da acumulação de areia noutros locais (Vale Furado será apenas um exemplo), a praia das Paredes este ano está não só muito mais curta mas também muito mais baixa. O mar, mas principalmente o rio, desgastou a duna fazendo com que a praia perdesse grande parte da sua areia.
Aplaudi e defendi a intervenção de requalificação da praia, feita pela ARH Tejo ao abrigo do POOC Alcobaça-Mafra, nomeadamente na colocação dos passadiços e das barreiras de proteção que ajudaram a fixar as dunas. O efeito dessas paliçadas foi a praia ter ganho, em alguns locais, mais de um metro de areia.
Defendi também, que no final da primavera, quando o mar colocasse areia na praia, essa areia fosse transportada para o perímetro das dunas e que inclusivamente se fizessem obras ou tomassem medidas que procedessem à estabilização da duna e do leito do rio. Mas este ano, o mar não colocou areia na praia em quantidades iguais às dos últimos 3 anos. Este ano, não há areia na praia para se fazer esse trabalho.
Alertei para o facto do rio ter saído do seu leito normal e estar a escavar a duna, destruindo passadiços, acessos à praia e paliçada de proteção e fixação das dunas. Apelei para que uma máquina, uma simples retroescavadora, abrisse o rio “a direito”, do espelho de água até ao mar, corrigindo assim o seu leito e evitando a destruição da duna. Nada foi feito.
Agora, dói-me de ver o que foi, e está a ser, feito. Puxar areia da frente do mar – onde ela não existe e vai fazer falta. Destruir a duna ganha em 5 anos e transportando-a em direção ao mar, colocando a areia – solta – onde o mar tem chegado com facilidade. No fundo, arrasando completamente a praia, baixando a sua cota. Deixando as dunas, as paliçadas, todo o conjunto praia-dunas mais frágil e mais sujeito à ação do mar.
Doi-me ver o desperdício de dinheiro, a má gestão dos fundos públicos. Uma máquina de lagartas a trabalhar há 5 dias, pelo menos 10 horas por dia. A 50 euros/hora, no mínimo, estamos a falar de pelo menos de 2500 euros. Uma intervenção atempada, há uns meses atrás, corrigindo o leito do rio, por 150 euros (3 horas) teria evitado que a duna desaparecesse. Nada foi feito.
Assim, tenho muitas dúvidas sobre esta intervenção.
Em primeiro lugar, não necessariamente por ordem de importância mas para sistematizar as ideias, reconheço que o “sistema praia” e a praia das Paredes em particular, necessita de uma ação integrada entre a sua exploração económica, o uso turístico e o equilíbrio ambiental da faixa costeira. Em Espanha, estudos feitos têm demonstrado que o investimento na praia traz um retorno superior a 100 vezes! Assim, não me choca o mexer na areia, o “alisar” a praia, o proporcionar aos veraneantes e aos próprios concessionários melhores condições para o seu usufruto e exploração. Mas não me parece que alterando significativamente a morfologia da praia seja o melhor caminho.
Em segundo, penso ainda que não houve uma ação imediata e eficaz no momento oportuno – a correção do leito do rio. Se tal ação atempada tivesse sido feita, não só (muito) dinheiro teria sido poupado, como a praia, no início do Verão, teria condições (de areal) que agora não dispõe.
Em terceiro, e sinceramente espero estar profundamente enganado, a destruição da praia mais alta, junto à duna, o baixar a sua quota e suavizar o seu declive em direção ao mar, só vai facilitar que em situações de tempestade e marés vivas o mar leve a areia e chegue onde nunca chegou.
Em quarto, e após cinco dias de ver os trabalhos, começo a duvidar que tal esforço se traduza numa melhoria generalizada da praia, ou se será apenas uma melhoria “localizada”?
Quinto: ficam-me as dúvidas: Foi objetivo do responsável pela intervenção o de reduzir a altura da praia junto às paliçadas? Se assim foi, qual o objetivo das mesmas? O que pensam o INAG e a ARH Tejo disso? Como se irá comportar a praia com este novo perfil após as marés vivas? Aguentará a praia com este novo perfil as investidas do mar durante o Inverno?
Em quinto. Muito disto não seria preciso que têm corrigido o leito do rio em tempo oportuno.
Espero estar enganado, mas esta intervenção pode custar caro à praia. Dois ou três anos como este, sem reposição significativa de areias nos meses de Abril-Junho, trarão o mar até à marginal.
Em especial, esta intervenção e a falta de uma outra atempadamente, este ano, tal como muitas outras feitas nas Paredes (e um pouco por toda a freguesia de Pataias e do concelho), tem uma lógica pontual, localizada, particular, de curto prazo, desfasada no tempo e sem obedecer a uma estratégia de longo prazo. Para não falar de dinheiro, de todos nós, mal gasto.
Movimento de areias, na crista da praia, durante a maré alta. Onde a areia foi retirada, o mar espraiou-se e avançou muito mais.
Retirada da areia ganha pelas paliçadas durante os últimos 5 anos, sendo transportada em direção ao mar.
Rebaixamento da duna primária e diminuição do declive da praia.
Pois tudo que dito por ti ( Grilo ) e com toda a razão, é gastar dinheiro público ou melhor mandar dinheiro para o lixo. E é por isso que digo se vale a pena essas pessoas que mandam terem um canudo na mão, por mim não vale nada, uma pessoa com a 4ª classe vaz melor, obrigado e continua assim seja quem for que lá esteja.
ResponderEliminarJacinto Pesqueira, Pataias.
É preciso acrescentar, que depois da intervenção, e contrariamente ao que costuma acontecer, o mar ainda colocou areia na praia, prolongando-a, o que veio de alguma forma atenuar a situação.
ResponderEliminarSeja como for, o perfil da praia está muito baixo e toda a intervenção feita agravou a situação.
Para acentuar ainda mais o problema, a zona dos campos de jogos, junto à paliçada, foi rebaixada cerca de 2 metros (!). Uma mar alteroso com vagas de 4/5 metros, normal nas Paredes no inverno, vai chegar à paliçada e destruí-la. E com ela as dunas e, quem sabe, até o bar do Ramos.
E depois alguém virá reclamar sobre o avanço do mar, a destruição de bens e pedir (muito) dinheiro para uma intervenção de proteção.
Sinceramente espero estar enganado e ser acusado, uma vez mais, de ser um profeta da desgraça e só saber dizer mal. Mas esta intervenção e a forma como foi feita pode custar vários anos à praia das Paredes, no que diz respeito ao seu areal, às dunas e à própria qualidade da praia.
Esta intervenção é a negação absoluta de tudo aquilo que foi feito pela ARH Tejo, pelo INAG e pela própria Câmara Municipal nos últimos 5 anos.
E por isso, para além de um disparate técnico, é também um desperdício de dinheiros públicos.
Só mais uma coisa. Durante os 15 dias que a intervenção durou, não vi ninguém da Câmara a orientar os trabalhos.