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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Mega-agrupamento de Escolas de Alcobaça

Pode ser impressão minha, mas parece que a notícia da constituição do maior agrupamento de escolas do país, e do qual o agrupamento de Escolas de Pataias fará parte, pouco impacto teve. Nos jornais locais a notícia ou não existiu ou foi discreta, na rádio local, o tratamento foi semelhante.
Aliás, no Região de Cister da semana passada (nº982 de 14 de Junho), a referência ao agrupamento limitava-se a uma pequena declaração do presidente da Escola Secundária D. Inês de Castro, Gaspar Vaz, no suplemento dedicado à oferta educativa, que dizia “se o agrupamento das três escolas de Alcobaça faria sentido, acho que com quatro é um número exorbitante”. Na edição desta semana nada diz.
Há ainda notícias que referem que as escolas de Alcobaça, através dos seus Conselhos Pedagógicos e Conselhos Gerais, nunca se pronunciaram sobre a agregação com Pataias. Há ainda a informação que o Conselho Municipal de Educação não reúne desde 2007(!) e que foi feita carta rasa da Carta Educativa Municipal – documento aprovado pela própria Câmara municipal.
Ora, este parece ter sido mais um assunto resolvido numa espécie de “navegação à vista”, obedecendo a interesses pontuais e acusando a normal falta de estratégia e visão de longo prazo.
 
Ou poderei estar enganado.
Esta decisão de agregar as Escolas de Pataias a Alcobaça pode ter, mesmo, essa visão de longo prazo.
Eu explico.
 
Por um lado, com a criação do mega-agrupamento, canalizam-se os alunos de Pataias para Alcobaça, garantindo a manutenção de massa crítica e emprego nas escolas da sede de concelho. Paralelamente, esvaziam-se de pataieiros as escolas da Marinha Grande e, com o tempo, poder-se-á criar uma empatia entre as novas gerações e a sede de concelho – coisa que até hoje nunca existiu.
Por outro, e dado o pequeno número de alunos no terceiro ciclo, e alegando medidas economicistas, há a hipótese de deslocar esses alunos para Alcobaça, ficando Pataias apenas com 1º e 2º ciclo. E assim, e apesar de lançado em fevereiro passado, anula-se um concurso público que iria custar aos cofres municipais qualquer coisa como 4,5 milhões de euros. Ou seja, não se constrói o centro escolar de Pataias. Se a este valor contabilizar-mos os previstos 1,5 milhões na deslocalização do mercado, são 6 milhões de euros que não serão investidos em Pataias. 6 milhões que a Câmara não tem e que pode gastar noutro lado.
A este não investimento teremos de somar o desinvestimento. Menos centena e meia de alunos em Pataias, menos umas dezenas de professores e alguns funcionários de secretaria e teremos mais uma “machadada” no já débil comércio local. Assim se esvazia Pataias, nas pessoas, no número de serviços que possui, no seu sentimento, no seu processo e intenções de autonomia, nas suas reivindicações de reconhecimento da importância que possui neste concelho. 
O que ficará para a história, no futuro, serão os 3 agrupamentos de escolas: Alcobaça, Benedita e S. Martinho do Porto.
O que ficará no futuro, são as pessoas e os jovens deslocarem-se para Alcobaça, contribuindo para o comércio local nos cafés, nos restaurantes, nas papelarias, nas diversas lojas. Gastar dinheiro em Alcobaça que antes era gasto em Pataias.
 
Ora, isto é, digo eu, visão estratégica de longo prazo.
 

Nota
Já antes disse que apenas os profissionais do Agrupamento de Escolas de Pataias podem saber os motivos que levaram a esta decisão. Sou de opinião de que o argumento que o Agrupamento não sobreviveria sozinho não é suficientemente forte e que não passou de uma desculpa.
No entanto, não deixou de me surpreender que alguns profissionais dessa casa apenas soubessem do facto consumado, à posteriori.
Surpreendeu-me ainda mais que as escolas de Alcobaça nada soubessem e que a DREL e o próprio ministério fossem favoráveis para que Pataias tivesse o seu próprio agrupamento.

Quem foi o verdadeiro interessado nesta mega-agregação?

Só mais uma coisa. 
A luta por uma escola secundária em Pataias foi uma das maiores batalhas travadas e ganhas desta terra. Surpreendeu-me também que os atores dessa luta nada tenham dito. O grande Emídio de Sousa, que via em Pataias potencialidades únicas e sonhava com o seu desenvolvimento económico, cultural e humano deve agora estar a dar voltas no seu túmulo.

2 comentários:

  1. Parabéns pela análise. Finalmente alguém com senso e com uma leitura visionária da situação, pois, pelo secretismo do processo, até parece que são só vantagens e que houve uma histeria geral de aplausos. Mas não. A decisão de pedir ao MEC a inclusão do Agrupamento de Escolas de Pataias na agregação de Escolas de Alcobaça foi tomada sem ouvir ninguém. Nem os professores, nem os restantes profissionais do agrupamento, especialmente o pessoal administrativo, o mais atingido com a extinção da nossa escola, foram ouvidos. Infelizmente, alguns poucos, se prestaram a ser coveiros – com todo o respeito que os verdadeiros profissionais me merecem – da Escola de Pataias, desbaratando de forma ligeira e gratuita o labor e dedicação daqueles que no passado a ergueram. A Escola C+S de Pataias deixou de existir, Pataias perdeu.
    João Paiva

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    1. Caro João
      Apesar de tudo, a minha análise é de alguém que está de fora e que gostaria de acreditar que houve uma reflexão séria e profunda sobre a questão. Quanto mais sei do assunto, mais chego à conclusão que tudo foi feito de forma leviana (ou talvez não) e à revelia dos profissionais dessa escola (docentes e não docentes). Só ainda não percebi (ou, se calhar, não quero perceber) a quem interessa tudo isto.
      Estive na última Assembleia de Freguesia onde o assunto só foi discutido porque eu puxei o assunto, já no período aberto ao público. Para além de ninguém se ter pronunciado sobre o assunto (nem Junta, nem Assembleia de Freguesia, nem as coletividades cujos dirigentes, por acaso, estavam presentes na assembleia), a ideia que foi transmitida pelo presidente da Junta, segundo o que lhe foi transmitido - por quem não sei - é que houve uma grande unanimidade, por parte dos professores, relativamente ao agrupamento com Alcobaça.
      Profissionalmente, acho que foi um grande disparate ter-se feito este agrupamento.
      Pessoalmente penso que foi o princípio do fim. Lembro-me sempre da famosa frase: "Estávamos à beira do abismo e demos o passo em frente". Para Pataias foi um retrocesso civilizacional, cultural, social, administrativo e até económico que provavelmente jamais será recuperado. Mas não só para Pataias, mas também para a Martingança, Alpedriz e Montes.
      Fiquei muito triste e profundamente desapontado com esta decisão.

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