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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Burro ainda é meio de transporte

A notícia na edição on-line do Região de Cister
http://www.regiaodecister.pt/portal/index.php?id=5235


Octogenária dos Pisões ainda é transportada por burro

Hoje é quinta-feira. Hoje é dia de Otília Maria Ribeiro, uma octogenária residente nos Pisões, freguesia de Pataias, rumar até à Maceira Liz para vender os produtos agrícolas, que ainda cultiva, no mercado. Esta história poderia acabar aqui, não fosse o meio de transporte utilizado por Otília Ribeiro tão raro nos tempos que correm. Mais do que uma forma de se deslocar, o burro – Miguel de seu nome – é uma “companhia”. E é nele que Otília Ribeiro vai “beber café, às compras, visitar alguém ou, até, ao cemitério”. Nos Pisões todos conhecem o Miguel.
“Comprei-o há três anos por cem euros”, refere a octogenária. “Já tive outros burros mas foram morrendo. Nem imagina o que chorei quando morreu o burro que tive antes do Miguel”, confessa. E quando o Miguel é requisitado para posar para a fotografia junto da dona, a cumplicidade de ambos é bem visível.
Mãe de quatro filhos, avó de nove netos e bisavó de três bisnetos, Otília Ribeiro já experimentou outros meios de transporte: bicicleta (uma vez apenas, dado que caiu), motorizada (na companhia do marido, falecido há cerca de cinco anos), comboio e carro de familiares ou amigos. “Talvez ainda chegue a andar de avião. Uma sineira disse-me um dia que ia viajar de avião. Mas ainda não aconteceu”, confessa.
“Dá muito trabalho ter pastagem para o Miguel”, explica Otília Ribeiro, “mas sem trabalho não se faz nada”. E de trabalho percebe a octogenária que, apesar de nunca ter laborado numa fábrica, trabalhou “muito toda a vida”. Quando era mais nova, a principal tarefa da pisoense prendia-se com a criação e ordenhação das vacas e a produção e venda de queijos. Executar a lida doméstica e assegurar parte da produção agrícola eram outros dos trabalhos destinados. E ainda hoje é assim. “Olhe, acabei agora mesmo de amassar o meu pão e de por a cozer no forno a lenha”, afirma, enquanto vai lavando a calçada envolvente à sua casa, sinal de que a limpeza semanal do lar está concluída. E os animais também já estão tratados e a horta está regada.
Simpática, Otília Ribeiro conclui cada frase com um sorriso. “Gosto muito de conversar”, refere. E ao longo da conversa vai apontando as datas precisas dos acontecimentos que vai narrando. Não há qualquer traição por parte da sua memória (invejável). Nem dos seus sentimentos. E o Miguel que o diga depois de receber umas sacudidelas no pêlo para ficar mais bonito na fotografia.

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