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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Paulo Inácio em entrevista ao Tinta Fresca

A entrevista está no jornal on-line "Tinta Fresca"

Grande entrevista com o presidente da Câmara Municipal de Alcobaça

Paulo Inácio faz balanço do ano de mandato:
"Alcobaça tem agora uma estratégia e rumo"

O presidente da Câmara Municipal de Alcobaça concedeu uma entrevista ao Tinta Fresca onde faz o balanço do seu primeiro ano de mandato. Pródigo em ideias, Paulo Inácio lançou durante 2010 cerca de uma dúzia de novos projectos, nomeadamente, a criação de dois parques verdes na cidade, de um centro de negócios na antiga cooperativa agrícola, que incluirá um call center, a renegociação do contrato com a Águas do Oeste, assumindo que houve um grave erro de cálculo na quantidade de água contratualizada pela autarquia, a revitalização do Museu Nacional do Vinho e a proposta da criação e instalação do Museu da Língua Portuguesa no Mosteiro de Alcobaça, Património da Humanidade, mas recusa a ideia de ter pouca obra realizada, dado ter dado prioridade à estratégia para o concelho e estar em funções há pouco mais de um ano.

TINTA FRESCA – O Museu da Língua Portuguesa não é uma proposta de alto risco, sabendo que no Brasil está localizada em S. Paulo, a maior metrópole e capital económica do País, ao contrário do que sucede com Alcobaça?
PAULO INÁCIO - É verdade, reconheço que é uma pretensão ambiciosa, mas reconheço também factores que nos põem numa posição singular. Um é geográfico, estamos no centro do País, não estamos longe de Lisboa e temos boas vias de comunicação e a centralidade em termos de território nacional é muito importante. Por outro lado, temos legitimidade cultural e histórica e, suplementarmente, a Língua Portuguesa também é da Humanidade e deve estar num Património da Humanidade (Mosteiro de Alcobaça). Portugal tem de se afirmar, como no passado, não só através da sua Capital, mas como um País milenar e como uma nação das mais antigas da Europa e tudo isto são factores favoráveis à nossa candidatura.


TINTA FRESCA - Mas houve alguma conversa com a direcção do IGESPAR, uma vez que é o IGESPAR que detém a tutela do monumento?
PAULO INÁCIO - Não, eu gosto de lançar reptos. Fiz uma reflexão profunda no sentido de encontrar um projecto estruturante para o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. E achei que este era um projecto estruturante e ambicioso, pois trata-se de um projecto com ambições globais. Após essa reflexão, achei por bem anunciar este repto à Nação portuguesa porque acho que é uma vergonha para o Estado português não ter o Museu da Língua Portuguesa, ao contrário do Brasil, que fez essa opção de forma inequívoca e clara. Sendo o Brasil o maior País de expressão Língua portuguesa, faz sentido que o tenha criado, mas qualquer dia assistimos a um contágio de todos os PALOP e só Portugal não tem este museu e o País tem de rapidamente colmatar esta lacuna.
O Estado português há três ou quatro anos fez esta reflexão, estudou o assunto e depois abandonou o projecto. Eu só estive atento e, no momento oportuno, achei que tínhamos legitimidade para esta candidatura. E penso que resolvia muitos problemas da nossa cidade e do nosso concelho. Primeiro porque nos afirmávamos categoricamente no contexto turístico internacional e, por outro lado, porque o turismo escolar nacional também obrigatoriamente teria que passar pela nossa cidade. Desta forma, iríamos confirmar em absoluto a canção “Quem passa por Alcobaça, não passa sem cá voltar”.
O Mosteiro por si só é motivo suficiente para que gerações sucessivas voltem a Alcobaça, mas se houvesse esta complementaridade seria algo extraordinário. É muito ambicioso, mas sem utopias não avançamos.
Aquando a inauguração do Museu da Imagem em Movimento (mimo), em Leiria, apresentei as minhas razões à ministra da Cultura e ela disse-me que teríamos de fazer uma reunião e estudar profundamente o assunto. Estou convencido que se o Estado português der um pequeno sinal de que quer executar este projecto, nós certamente vamos encontrar académicos e parceiros institucionais para reforçar a nossa candidatura.
A Câmara Municipal de Alcobaça precisa só de um pequeno sinal do Estado português para procurar parceiros em todas as áreas. Acredito no nosso legado enquanto concelho, enquanto Património da Humanidade, acredito que nos vai trazer grandes parceiros para que este objectivo seja alcançado, só precisamos de ter a confirmação do Estado.


TINTA FRESCA - Em que ponto estão os outros museus do concelho, nomeadamente, o Museu Nacional do Vinho?
PAULO INÁCIO - Este Executivo tem um ano e tem uma cartilha enorme de assuntos para tratar em simultâneo e estamos em várias frentes. Essa foi uma frente que acompanhámos desde início, mas é um processo que tem emperrado em virtude de falta de coordenação política das medidas compensatórias da Ota. Tenho a informação que em Janeiro haverá um debate de urgência, solicitado pelo PSD, na Assembleia da República e tenho esperança que até lá algumas questões processuais por parte do Estado português sejam mais céleres.
Compreendemos a situação financeira que estamos a atravessar, mas essa medida compensatória da Ota até passava pela entrega do património em condições (requalificado) à Câmara de Alcobaça. Eu já só estou no patamar da entrega do património, para a Câmara poder abrir a porta aos seus turistas, para que o turismo seja revitalizado na cidade. Tenho apenas de ter garantias absolutas de que o acervo patrimonial volte todo, uma vez que tenho informações de que algum está disperso.
Tenho a expectativa de que nos próximos meses o assunto seja resolvido superficialmente, porque não acredito que o Estado português ou a Câmara tenham condições para fazer intervenções profundas no museu. Contudo, tenho esperança de que ocorra, pelo menos, a entrega do museu à Câmara Municipal.

TINTA FRESCA - Ainda haverá tempo de lançar uma candidatura a fundos comunitários, enquanto não se esgotam, para a recuperação do Museu Nacional do Vinho?
PAULO INÁCIO - Se não houver uma entrega de propriedade, será muito difícil a Câmara Municipal de Alcobaça poder candidatar-se a fundos comunitários. Isso é um problema. A entrega da propriedade tem que passar por uma mutação da lei das finanças, para possibilitar a transmissão de propriedade por um valor simbólico, e poder assim cumprir aquilo que o Estado português contratualizou no âmbito do Plano de Acção do Oeste. Portanto, é preciso coordenação política no Governo para que isto se afirme.
De qualquer forma, a visita do ministro da Agricultura teve uma consequência muito boa para o concelho de Alcobaça. Tenho informações oficiosas, não oficiais, de que a candidatura do regadio da Cela Velha foi aprovada. Estávamos há 4 ou 5 anos à espera que ela fosse aprovada e estamos a falar de um investimento na ordem dos 6 milhões de euros.


TINTA FRESCA - Em relação ao museu de cerâmica Raul da Bernarda, a autarquia já adquiriu o espólio?
PAULO INÁCIO - Não, a Câmara abriu as portas do Museu e queremos formalizar esse assunto o mais rapidamente possível, mas não depende só da Câmara Municipal. Ainda não está formalizada a doação do espólio dos familiares e há questões de pormenor, mas, independentemente dessa espera, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel e comunicou aos proprietários que o ia abrir.

TINTA FRESCA - O Armazém das Artes, outra importante instituição cultural da cidade, investiu quase dois milhões de euros e está em risco de fechar portas, uma vez que os custos são muitos e não tem tido apoios.
PAULO INÁCIO - Se isso vier a acontecer é muito preocupante, porque se trata de um património importante para a cidade e acho que a cidade de Alcobaça se deve orgulhar do Armazém das Artes. A Câmara Municipal tem feito alguma coisa, nomeadamente a nível institucional junto da EDP para que tivesse um regime de tarifa excepcional, mas não sei se isso já deu resultados ou não. Aquando da inauguração da empresa Canas, no Casal da Areia, voltei a falar dessa matéria e mandei documentação para a EDP nesse sentido. Vamos ver que outras formas de apoio poderá haver, sendo certo que estamos todos num contexto financeiro muito difícil.


TINTA FRESCA - O Escultor José Aurélio disse que fez algumas propostas à Câmara e que esta mostrou alguma receptividade, mas depois não houve desenvolvimentos.
PAULO INÁCIO - Há a possibilidade de técnicos fazerem prestações de serviços, mas teremos de estudar essa hipótese e o Armazém das Artes ainda não formalizou em concreto nenhuma proposta. O que eu digo é o seguinte: é um património que nos orgulha e que é importante para a cidade, mas, concomitantemente, estamos todos com grandes dificuldades.


TINTA FRESCA - Qual é o ponto da situação da construção dos novos centros escolares?
PAULO INÁCIO - A carta educativa aponta para seis centros escolares, agora a calendarização da mesma está subjacente ao programa de QREN e não sei o que vai acontecer ao próprio QREN.


TINTA FRESCA - A Câmara só avança para os seis centros escolares se tiverem apoio do QREN?
PAULO INÁCIO - É óbvio. Os centros escolares só são exequíveis no âmbito do QREN. Até com o QREN é um esforço muito grande.


TINTA FRESCA - Já há algumas candidaturas aprovadas?
PAULO INÁCIO - O projecto dos centros escolares que está mais adiantado é o de Pataias. Temos também QREN parcialmente aprovado para Turquel e Alfeizerão. Mas a Europa está com grandes mutações e temos de estar atentos.


TINTA FRESCA - O Centro Escolar de Alcobaça não tem apoio do QREN, mas está já bastante avançado. É para abrir durante 2011?
PAULO INÁCIO - Durante 2011 terá que abrir. Não está ainda definido o timing da sua abertura, porque há várias frentes naquele problema: questões pedagógicas, se é a meio do ano lectivo ou se é no início do próximo, e outras questões ainda por resolver, como seja a presença de uma família de etnia cigana acampada nas imediações e que não é aceitável, além da conclusão das próprias infra-estruturas.


TINTA FRESCA - O que será feito ao parque escolar existente, uma vez que na última década a Câmara investiu muito dinheiro na sua requalificação?
PAULO INÁCIO - Isso está escrito no programa da campanha eleitoral deste Executivo. Vamos dar preferência a experiências de contacto intergeracional, mas para haver este contacto entre as gerações mais novas e as mais idosas e esta partilha de saberes é preciso uma sociedade civil pujante. Há uma lacuna na sociedade, não só alcobacense, como na sociedade portuguesa, que é o contacto intergeracional, e esta podia ser uma oportunidade para o uso destes espaços. As diversas gerações iriam ganhar muito umas com as outras.
Mas quero dizer que a questão das opções dos centros escolares do ponto de vista filosófico e político é indiscutível.


TINTA FRESCA - Mas há autarquias, nomeadamente vizinhas, por exemplo a Câmara de Porto de Mós, que não fizeram nenhum.
PAULO INÁCIO - Certo. É muito discutível. Agora o País, bem ou mal, já trilhou um caminho. Se calhar eu próprio tenho algumas reservas, mas o próprio QREN só existe para os centros escolares ou escolas com mais de cinco salas. Para outras intervenções não há disponibilidade.
A própria Europa também seguiu este caminho, de médios ou grandes centros escolares. Alcobaça não pode ser uma ilha de outro paradigma. Eu, enquanto pai e enquanto cidadão, também reconheço duas realidades: os centros escolares antigos, que tinham ainda a filosofia do Estado Novo, mas também tinham outros valores como a proximidade, familiaridade, solidariedade, e os centros escolares grandes, em que estas características se podem perder. Mas essa discussão política já vem atrasada porque já se tomaram opções.


TINTA FRESCA - Admite, face à actual crise económica, reavaliar o processo?
PAULO INÁCIO - Por isso eu disse que ia estar atento. Foi trilhado um caminho político um pouco irreversível, mas continuo atento ao processo, porque vejo também centros escolares de média dimensão com atenção.


TINTA FRESCA - Tem mantido esse diálogo com os presidentes das Juntas de Freguesia?
PAULO INÁCIO - Sim. Só para dar um exemplo. Fizemos uma intervenção na escola primária de Aljubarrota e a remodelação daquela escola está a ter um óptimo impacto. Fica uma escola com a dimensão necessária, continua a ter proximidade com a população e tenho a certeza que os pais vão ficar satisfeitos com a obra.
Vamos acabar também com uma vergonha para o nosso concelho: na Escola Primária do Bárrio uma das salas está num anexo e vamos fazer essa intervenção de ampliação da Escola Primária do Bárrio. Temos de estar atentos a estas intervenções, tendo escolas com qualidade, vamos ver qual será a velocidade de execução dos outros quatro centros escolares.


TINTA FRESCA - Quais são os encargos financeiros com os novos centros escolares?
PAULO INÁCIO - Os números de Alcobaça e Benedita são importantíssimos e os outros obviamente são completamente diferentes porque têm comparticipação a 80%. O que acho é que a centralidade em termos escolares não vai reduzir custos de manutenção, vai aumentar claramente, porque vai haver mais custos de energia e mais custos de transporte do que temos nas escolas dispersas.


TINTA FRESCA - Outra factura importante é a da Águas do Oeste. Admite que houve alguma precipitação no acordo com a Água do Oeste? Recordo que na altura houve uma espécie de ultimato da empresa pública: ou a Câmara de Alcobaça aderia à Águas do Oeste ou não haveria grandes obras de saneamento no concelho, nomeadamente, em São Martinho do Porto,
PAULO INÁCIO - Acho que houve pressão política na altura e depois também houve erros de cálculo. Houve as duas coisas. A questão política agora já pouco importa, o que quero é tratar a outra questão que é a questão de erros de cálculos. E não é fácil.


TINTA FRESCA - Há outros municípios que estão a reivindicar a diminuição de comparticipações. Existe alguma acção concertada?
PAULO INÁCIO - Eu não tenho toda a informação mas custa-me acreditar que alguém tenha um erro tão grande como o nosso. Há muito tempo que andamos em negociações. A dificuldade de obter um acordo tem a ver com implicações no sistema, mas também há um parecer da Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos que de alguma forma recomenda essa conversação e também parte do princípio de algum erro de cálculo.


TINTA FRESCA - Propôs a construção de dois grandes jardins ou de zonas ajardinadas, junto aos Paços do Concelho e na Zona Ribeirinha. Não serão jardins a mais para esta época de crise ou estamos a falar de projectos desfasados temporalmente?
PAULO INÁCIO - Não, acho que não (são jardins a mais). Acho que um parque urbano verde é uma necessidade premente para a cidade e é um parque que também tem pretensões intergeracionais, vai ter infra-estruturas desportivas, desportos radicais e proporcionar lazer junto à zona ribeirinha.
Este parque entronca num projecto lato: nós dissemos à ARH que achávamos que não devia haver nenhum rio na Europa tão perto do mar com tanta diversidade cultural, botânica, etc.. E o que estudámos, reflectimos, o que a ARH tem feito a nosso pedido e estudado com os nossos técnicos foi olhar o rio Alcoa da nascente até ao mar. É um projecto singular e a ARH fez connosco um trabalho extraordinário e muito bem elaborado, que abrange também os campos da Fervença e da Cela Velha.
Tenho a esperança que as dificuldades não impeçam este processo que é longo e faseado. Havendo vontade e um ponto de partida, certamente alguém vai ser um homem feliz quando o acabar, porque globalmente se retoma os Coutos alcobacenses, unindo Alcobaça e Nazaré. Isso revitalizava a veia do Mosteiro, a veia do nosso coração que é o Rio Alcoa.

TINTA FRESCA - Já defendeu que estas requalificações podem potenciar desenvolvimento económico. O Dr. Sapinho enfatizava isso muito, nomeadamente, quando foi a requalificação do Rossio, mas o facto é que embora os autocarros passassem a ficar junto à Câmara, os turistas continuam a entrar todos juntos e a sair todos juntos e a não comprarem quase nada. Apenas caminham mais 300 metros mas parece que ninguém falou com os operadores turísticos para alterar esta situação.
PAULO INÁCIO - Esse é um problema que Alcobaça tem, como outras cidades têm. Por isso é que a Câmara está em vistas de concluir um recrutamento na área do turismo, porque temos muito que fazer nesta matéria dos operadores turísticos. É pena que a sociedade civil não tenha projectos importantes que permita que os turistas fiquem mais do que um dia a tirar prazer da cidade e do concelho.
Para superar este problema seria importantíssimo a criação de um Hotel no Mosteiro, que ajudaria, e muito, na criação de emprego directo e indirecto e de um projecto estruturante como o Museu Nacional da Língua Portuguesa, para os turistas ficarem aqui, pelo menos, o dia todo. Estou mesmo convencido que se isso viesse a ser possível nós triplicávamos ou quadruplicávamos o turismo em Alcobaça.
Mas mesmo sem esses projectos estruturantes, temos muito trabalho a fazer. Temos que melhorar a captação dos operadores turísticos, temos que tomar a percepção que o Mosteiro por si só não chega, temos que ter complementaridade de oferta turística e aí encaixam questões como o Museu do Vinho, o Parque Urbano, projectos pequenos como o Museu Raul da Bernarda, a Estação Eléctrica da Fervença e confluência dos rios Alcoa e Baça. É preciso dar uma oferta complementar, integral, porque pensarmos que o Mosteiro é a âncora do turismo, mas não é tudo.


TINTA FRESCA - O facto é que alguns comerciantes dizem que os turistas são pressionados pelos operadores turísticos para que não façam compras em Alcobaça e as façam em Fátima…
PAULO INÁCIO - Isso são outras práticas comerciais que desconheço.


TINTA FRESCA - Tem havido algum diálogo com a Associação dos Comerciantes acerca da interacção com os operadores turísticos?
PAULO INÁCIO - Não, os comerciantes certamente sabem mais desta matéria do que eu e não tenho pretensões de dar lições a ninguém porque da profissão cada um sabe as dificuldades que tem. Constato por vezes também que vejo algum comércio fechado na altura de alguns eventos e maior presença humana e fico confuso, mas tenho a humildade suficiente para admitir que da sua casa cada um é que sabe. Mas esta interacção tem de ser uma forma activa de ambas as partes.
No ano o passado fizemos alguns eventos culturais e as pessoas pensavam que iríamos baixar o nível cultural por ter menores custos financeiros. Nós tivemos a percepção antes de outros que os tempos estavam complicadíssimos e queríamos fazer o início da política do “nós para nós”. Primeiro temos de convencer o nosso grande concelho a vir à cidade de Alcobaça. No ano passado, demos esse passo de criar o hábito de eventos feitos de nós para nós, não é de terceira qualidade, é de outro estilo.
Depois de criar alguma regularidade poderemos retomar outra perspectiva de menos eventos mas melhores. Mas Alcobaça tem ainda de fazer um grande caminho a combater o orgulhosamente só, tem de acreditar no seu concelho, pois fica com outra força.


TINTA FRESCA - Um dos sonhos do Dr. Sapinho era criar uma cidade com 10 ou 12 mil habitantes e, para isso, pensava apostar na Nova Alcobaça e na Cova da Onça, que têm estado mais ou menos parados. Em que ponto estão esses projectos?
PAULO INÁCIO - Dou-me por muito feliz por assistir agora à construção de parte das infra-estruturas porque estavam mesmo paradas. Quando chegámos à Câmara conseguimos fazer alguma pressão para começarem a fazer as infra-estruturas. È um projecto de grande qualidade de grande dimensão, os sinais que tenho é que há algumas situações que estão ainda a ser formalizadas, mas também sei que nesta época o mercado urbanístico está completamente parado. Deus queira que o investidor tenha sucesso, mas, se não está a andar na velocidade máxima, obviamente tem a ver com questões de mercado.


TINTA FRESCA - Como está o projecto do Call Center?
PAULO INÁCIO - O projecto está concluído e adjudicado, só precisamos do visto do Tribunal de Contas, porque é importante para a criação de emprego. Tenho algum receio de que, com as dificuldades do mercado, possa haver alguma mutação empresarial, mas estamos a lutar para que não ocorra.


TINTA FRESCA - A área de Localização Empresarial da Benedita (ALEB) continua a manter viabilidade no actual contexto económico?
PAULO INÁCIO - Tem de ter, nós estamos ainda na fase da regularização formal. A ALE tem um regime excepcional no PROT, mas carece de outros patamares de ordenamento urbanístico para ter realidade futura. Precisa de aceitação do PDM e do Parque Natural da Serra de Aires e Candeeiros e até lá estamos a fazer um trabalho enorme do ponto de vista técnico, junto de diversas entidades, pois como sabe há várias circunstâncias a complicar a ALEB: a questão do famoso TGV, que formalmente ainda passa lá, linhas de alta tensão, gaseoduto, traçado definitivo do IC2, questões hidráulicas. Portanto, há ali um enorme trabalho, que estamos a efectuar, do ponto de técnico, mas continuamos apostado neste objectivo.


TINTA FRESCA - E os empresários da Benedita continuam interessados em mudar-se para lá, uma vez que vão ter construir novas instalações?
PAULO INÁCIO - Esse problema pode pôr-se no início, mas eu acho que a Benedita precisa deste desafio. A Benedita é uma sociedade muito empreendedora, mas tem o problema da sucessão das gerações familiares de sucesso: ou fazem a passagem de testemunho geracional ou transformam-se em empresas suprafamiliares. A ALEB é o pretexto para que uma destas duas realidades ocorram.


TINTA FRESCA - O Gabinete do Investidor tem tido alguns frutos?
PAULO INÁCIO - Já fomos procurados por mais de 80 investidores, muitos deles para ultrapassar burocracias por via da Via Verde Empresarial. Há avanços e recuos, devido à actual situação económica, mas há investidores importantes sinalizados porque o Casal da Areia está pujante, sobretudo, agora com a ligação directa ao IC9.


TINTA FRESCA - Qual será a redução de pessoal na Câmara de Alcobaça?
PAULO INÁCIO - Temos efectuado naturalmente uma redução de pessoal através da cessação de contratos, temos tido muita gente a reformar-se, mas estamos legalmente impedidos de contratar pessoas. A Câmara precisa de alguns quadros na sua estrutura, mas precisa, sobremaneira, de operacionais para estarem na rua: jardineiros, motoristas, cantoneiros, estamos com problemas gravíssimos e sei que a prestação de serviços da Câmara aos munícipes, nessa perspectiva, começa a ser muito difícil.


TINTA FRESCA - A Câmara continua a poder exercer as suas funções com a saída de tanta gente?
PAULO INÁCIO - Temos recorrido a serviços externos. O que a Câmara precisa, na minha opinião, é de se actualizar e modernizar e precisa de um espaço único. È um grande desafio para a instituição e a instituição precisa desta reestruturação. Uns ficam mais satisfeitos, outros menos, mas é preciso agilizá-la, modernizá-la para no futuro estar preparada para uma nova realidade. Precisamos de um edifício na sua exacta dimensão, sem ser megalómano, ágil, moderno, informatizado e centralizador, no sentido de todos os serviços poderem comunicar transversalmente uns com os outros e ele próprio ser um catalisador de força no seio da cidade. Acho que é uma oportunidade para a instituição e para a cidade que eu gostaria muito de ver concretizado.


TINTA FRESCA - Com parque de estacionamento? Neste momento já não é nada fácil estacionar nas imediações…
PAULO INÁCIO - Não é fácil, mas eu faço uma pergunta: que estacionamento têm hoje os 57 mil habitantes se quiserem vir aos Paços do Concelho da Câmara Municipal? O problema já existe hoje, eu sei que precisamos de estacionamento e estamos a lutar para o conseguir, mas esse é um problema que temos de resolver se a Câmara for instalada no edifico do Mercado Municipal.


TINTA FRESCA – Tem tido feed back dos problemas sociais no concelho?
PAULO INÁCIO - Eu tenho a percepção de que os problemas sociais vão crescer.


TINTA FRESCA – Por exemplo, tenho a informação de que há bastantes pedidos de rescisão de contratos de abastecimento de água. Suponho que essas pessoas optem por se abastecer em poços, para não pagarem a conta da água da rede pública.
PAULO INÁCIO - No âmbito social temos uma transversalidade de apoios que efectuamos consoante as nossas possibilidades. Por uma questão de princípio, não gosto muito de nomear esses apoios, não é preciso estar a divulgar quem precisa de ajuda, a nobreza tanto é para quem preciso como para quem não precisa.


TINTA FRESCA - Algumas autarquias têm anunciado que irão manter as escolas abertas nas férias escolares por tomarem lá a única refeição quente do dia. No caso de Alcobaça, irá tomar alguma medida semelhante?
PAULO INÁCIO - Pode haver situações pontuais, mas não tenho noção de um problema dessa dimensão. Para o bem e para o mal ganhamos alguma coisa com a nossa ruralidade e a ruralidade auxilia mais a resolver estes problemas melhor que a urbanidade. Estou convencido de que não estamos na vanguarda das dificuldades sociais, mas estamos atentos.


TINTA FRESCA - Tem iniciado vários projectos, mas ainda não concluiu nenhuma obra no seu mandato. Não teme que os munícipes depois lhe cobrem por ainda não haver obra física?
PAULO INÁCIO - Que obras ainda não concluí do Executivo anterior?


TINTA FRESCA - A questão dos museus, a ALE da Benedita…
PAULO INÁCIO - Mas alguém pensa que num ano haveria milagres? Eu acho que houve milagres: a definição de uma estratégia e de um rumo, a decisão de instalar os serviços da Câmara, a decisão de criar um parque urbano na cidade, a ideia de propor a instalação do Museu da Língua Portuguesa em Alcobaça, a questão do hotel no Mosteiro estava morta e foi revitalizada, a revisão do PDM estava a ser falada há 6 ou 7 anos sem nunca ter havido um calendário que foi estabelecido agora.
Se analisarmos neste primeiro ano houve a definição de um rumo e uma estratégia, a questão dos rios, abrimos o Museu Raul da Bernarda, não havia um museu aberto na cidade! Eu costumo dizer aos meus auxiliares e colaboradores: não me deixem pensar mais porque o que está em cima da mesa já é muito. Estou satisfeito porque em menos de um ano foi feita uma estratégia e um rumo a longo prazo. Por vezes determinadas sociedades passam décadas sem ter uma visão: eu acho que temos uma visão, que passam por estes projectos estruturais na sede do concelho e a aposta na requalificação das sedes das freguesias porque vai ao encontro de uma região de turismo do Oeste requalificada.
Portanto, o plano está todo muito bem delineado, falta agora concretizá-lo. Eu sempre disse que estes projectos só seriam concluídos ao fim de muito tempo e foi na altura pior de sempre em termos financeiros, mas não estou nada insatisfeito com o trabalho realizado, estou muito satisfeito.


TINTA FRESCA - A primeira grande obra de vulto do seu mandato será então a conclusão da revisão do Plano Director Municipal?
PAULO INÁCIO - Não, essa é uma grande imaterialidade que queremos apresentar. A grande obra de vulto, que já apresentámos, foram ideias. Vou-lhe dar um exemplo: havia alguma ideia para os pavilhões da Cooperativa Agrícola? Há quanto tempo estão assim? Num ano apresentei uma ideia e um projecto para uma situação que estava sem solução há muitos anos. Resolvemos o problema do Museu Raul da Bernarda, comprámos as instalações e já o abrimos ao público. O projecto do hotel para o Mosteiro de Alcobaça é uma questão estratégica e estava morta e agora não.


TINTA FRESCA – Mas é preciso que haja investidores privados interessados.
PAULO INÁCIO - Essa é outra questão.


TINTA FRESCA - De qualquer forma, a resolução do problema da abertura do hotel pode não ser muito rápida.
PAULO INÁCIO - Depende do Estado, mas garanto-lhe que a questão agora não está abandonada porque tem um presidente de Câmara exigente a acompanhar o processo e a solicitar reuniões ao secretário de Estado, ao presidente do IGESPAR ou à senhora ministra da Cultura.


Mário Lopes

1 comentário:

  1. Só Alcobaça, Alcobaça, Alcobaça alguma Benedita. O resto do conselho não conta!!

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