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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Agrupamento de Escolas de Cister

A notícia na edição 1012 do Região de Cister de 10 de janeiro de 2013
“Alcobaça tem algo a ganhar com o mega-agrupamento”

O presidente do Agrupamento de Escolas de Cister mostra-se satisfeito com a forma como decorreram os primeiros meses de aulas do maior agrupamento do País, salientando que, apesar dos riscos existentes, Alcobaça pode tirar benefícios da agregação de estabelecimentos de ensino.

REGIÃO DE CISTER (RC) > Que balanço se pode fazer dos primeiros meses de existência do Agrupamento de Escolas de Cister?
GASPAR VAZ (GV) > Podemos dizer que a experiência tem corrido relativamente bem. Há sempre coisas que poderiam ter corrido melhor, mas este é um processo contínuo. As escolas têm a sua fisionomia própria, têm instalações próprias, graus de desenvolvimento diferentes e têm perspetivas diferentes do que deve ser escola. Por isso, este é um processo de negociação permanente, em que uma unidade cede, a outra também cede, ambas se ajustam, o que leva sempre a que existam algumas fricções. Aconteceram problemas perfeitamente marginais, as coisas estão a processar-se normalmente. Neste momento estamos em fase de elaboração do regulamento interno e do projeto educativo, que são dois instrumentos fundamentais em qualquer escola, de modo a dar alguma consistência e identidade a uma unidade que é diversa, por natureza própria.

RC > Esse é o grande desafio? Criar uma identidade do Agrupamento?
GV > Sem dúvida que sim. O facto de haver uma escola que é “sede” não anula, não pode anular, as diferenças e especificidades das outras unidades orgânicas. Em termos de regras, de procedimentos, temos muito a aprender uns com os outros, pelo que devemos fazer desta vivência uma parceria natural e contínua.

RC > Mas não existe uma predominância da Esdica sobre as restantes escolas?
GV > Tentamos que não tenha. A sede é na Esdica, que é a escola tecnologicamente mais atualizada, que melhores instalações possui, mas que tem muito para aprender com as outras em termos de regras e procedimentos. Há unidades do Agrupamento muito bem orientadas, mas talvez não tenha sido por mero acaso que a Esdica se transformou em escola sede. Esse facto, porém, não fundamenta nenhuma atitude “colonizadora”: todas as escolas estão em pé de igualdade para experienciar e tirar o melhor partido deste desafio.

RC > Notou-se alguma preocupação da comunidade escolar relativamente à criação deste mega-agrupamento. Entende que esse sentimento começa a esbater-se?
GV > Creio que sim. Não sou a pessoa mais bem situada para perceber isso, mas penso que as coisas estão a correr acima do que era expectável. É muito cedo para perceber se Alcobaça ganhou com o Agrupamento, mas há oportunidades que não devemos desperdiçar. O facto de termos quatro unidades é uma grandeza, dá-nos escala, que nos permite soluções que antes não estavam disponíveis. Há recursos, nomeadamente laboratórios, instrumentos e outras infraestruturas, que podem ser melhor explorados. É evidente que a gestão de proximidade, que valorizamos, é impossível de concretizar no Agrupamento, por uma questão de impossibilidade prática.

RC > O sector da educação tem sofrido muitas alterações. A escola está bastante diferente da que encontrou no início da carreira...
GV > Creio que a educação, a par da saúde e ao contrário da justiça, é um dos sectores em que o País mais evoluiu nos últimos anos. A escola fez um caminho sustentado e, como mostram estudos internacionais muito recentes, melhorámos muito no ensino de Matemática e de Português, nomeadamente. Está tudo muito diferente, muito à custa do sacrifício de algumas prerrogativas de que os professores gozavam. Quando comecei a carreira, o professor dava as suas aulas e não tinha a parte não letiva regulamentada. A progressão era um facto automático e, no fim da carreira, sobretudo, a relação entre o horário de trabalho efetivo e o vencimento era muito favorável. Tudo isso se esfumou, e nem toda a população tem consciência disso.

RC > É daqueles que defende que o ensino profissional é o futuro do País? Que é dessa forma que se podem qualificar muitos dos jovens que, por razões diversas, não querem ou não podem aceder ao ensino superior?
GV > Partilho claramente dessa visão. Tínhamos em Portugal uma infraestrutura iletrada e uma superestrutura de doutores e engenheiros, desajustada da realidade... Em determinado momento, acabámos com os cursos técnicos e ficámos sem uma mão de obra intermédia certificada. O ensino profissional tinha uma imagem relacionada com alunos com dificuldades intelectuais ou económicas, o que não corresponde à realidade dos dias de hoje. A existência de um ensino profissional é vital para o desenvolvimento de um país e a licenciatura/ mestrado não tem de ser encarada como uma fatalidade obrigatória.

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