Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com

sábado, 26 de junho de 2010

Água de Madeiros, Pedra do Ouro e Polvoeira

Água de Madeiros é um dos três locais do concelho de Alcobaça identificados pelo LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia – como um “Geo-Sítio”, ou seja, sítio de interesse geológico. Os outros dois são as arribas de Vale Furado a Paredes da Vitória e as arribas da praia dos Salgados.
O corte de Água de Madeiros, que se estende da Pedra Lisa até à Polvoeira, identificado como de importância regional, tem elevado interesse didáctico, estratigráfico e sedimentológico.

O interesse em Água de Madeiros advém, não só, daquilo que é conhecido como o corte geológico de Água de Madeiros, mas também à identificação da Formação de Água de Madeiros. Por outras palavras, são visíveis em Água de Madeiros diversas camadas de calcário margoso acinzentado, alternadas com níveis de margas “xistentas”, ricas em matéria orgânica, sendo possível identificar diversos fósseis de amonites, belemnites e bivalves. Nos níveis superiores das falésias de Água de Madeiros, apresenta acumulações de amonóides (Echioceras e Gemmellaroceras, por exemplo) e restos de peixes.
Quanto à Formação de Água de Madeiros, esta é caracterizada por calcários bioclásticos com intensa bioturbação e conteúdo fossilífero diverso, sendo constituída por dois membros: Polvoeira (na base) e Pedra Lisa (tecto). É possível ainda observar, da base para o topo, maior abundância em lamelibrânquios e braquiópodes. No topo desta formação – Membro da Praia Lisa – predominam os calcários relativamente às margas, evidenciando-se a biozona Raricostatum.
Ao longo do corte de Água de Madeiros, é ainda frequente a ocorrência de fácies de margas negras, por vezes betuminosas. Estas rochas têm bastante interesse científico, devido ao facto de apresentarem ao estudo directo, níveis correspondentes às formações portuguesas com maior potencial como rochas-mãe de hidrocarbonetos.
Para a existência de hidrocarbonetos é necessário encontrar três tipos de rochas: rochas-mãe, como aquelas que são visíveis nas arribas da Pedra do Ouro; rochas-depósito, como aquelas que se encontram, aparentemente, na Mina do Azeche (mina de asfalto do Canto de Azeche 1848-1861); rochas-selantes, que serão os calcários cretácicos existentes na região. Ou seja, a existir petróleo, será por aqui.
É neste contexto que se desenvolvem as arribas da praia da Pedra do Ouro.
Inicialmente conhecida por Pintanheira, esta praia viu a sua designação alterada para “Pedra do Ouro” já durante a segunda metade do século XX, designação confirmada actualmente.
A adopção do nome “Pedra do Ouro” estará relacionada com os estudos geológicos realizados e a descoberta da presença nas arribas negras da praia, de fósseis de amonites piritizadas (sendo que a cor da pirite é dourada).
Estas arribas, do Jurássico Inferior, apresentam uma quantidade muito significativa de matéria orgânica disseminada (aproximadamente 15%), o que é um outro excelente indicador para a formação de hidrocarbonetos. O ambiente anóxico existente aquando a sua formação criou condições que permitem a conservação da matéria orgânica, assim como o desenvolvimento de pirites nas conchas.
As arribas são ainda geologicamente ricas em calcite, que desagrega quando sujeita a elevadas temperaturas. A presença de alguns fornos sobre as arribas – em conjugação com os materiais geológicos aí existentes – podem indiciar a produção artesanal de cimento.
Estas arribas, de cor muito escura, são datadas do Jurássico Inferior e constituídas por calcários margosos e margas (embora com maior componente argilosa).
Quanto à Polvoeira, o afloramento rochoso visível integra ainda a unidade geológica observável desde a praia de Água de Madeiros. É caracterizada por uma grande diversidade de fósseis do Jurássico Inferior, nomeadamente lamelibrânquios e braquiópodes.
No entanto, o maior destaque vai para o prolongamento da arriba rochosa pelo mar dentro. Este prolongamento acaba por funcionar como se fosse um recife – que não é –, quebrando a força do mar e fazendo uma baía aberta. É esta particularidade geográfica que em conjunto com os registos históricos transformam a Polvoeira como uma das prováveis localizações do desaparecido porto de Paredes.
Por outro lado, se tivermos em consideração o recuo da arriba e da linha de costa (dada a natureza mais frágil dos materiais que a constituem ), chegaremos à conclusão que, muito provavelmente, não haveria espaço físico entre o "recife" da Polvoeira e a arriba para a instalação do porto, há 500-1000 anos atrás.
Atendendo ainda à evidente erosão do Castelo das Paredes (que tem “desmontado” o promontório rochoso a grande velocidade); ao possível assoreamento quer da praia quer do vale, ou seja, o mar chegaria quase aos moinhos (só possível confirmar com análises ao subsolo, mas uma evidência do assoreamento recente do litoral da região são o desaparecimento quase total das lagoas da Pederneira, de Alfeizerão e Óbidos), poder-se-á apontar o porto de Paredes a Sul do Castelo, ou numa outra localização que não a actual praia da Polvoeira. Mas efectivamente a localização do antigo porto é impossível de determinar com as informações actuais.

3 comentários:

  1. Muita controvérsia se gera quando se fala no porto de paredes. O que é certo é no extinto jornal "voz da paróquia", gerou uma grande discussão sobre a história das paredes e do seu porto. No final da controvérsia chega-se á conclusão que o extinto porto das paredes localizava-se a junto ao lado norte do castelo. O castelo seria muito mais imponente á uns séculos atrás, o que permitia formar um abrigo natural para as embarcações. Um Livro que poderá ajudar melhor a explicar : O Pinhal do Rei (1939)

    ResponderEliminar
  2. Tive oportunidade de consultar uma carta inglesa de portos maritimos portugueses que confirma a teoria do porto junto aos moinhos ou "Paredes Velhas".É engraçado que nessa zona a barreira a Norte é fronteira de tipos de solos diferentes.E quase que apostava que a antiga vila está enterrada debaixo da areia dunar .

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quanto à localização da antiga vila de Paredes não subsistem quaisquer dúvidas. Ela encontra-se junto à capela, debaixo da duna sobranceira ao "castelo", como atestam as ruínas aí existentes, as escavações arqueológicas realizadas e as fotografias existentes do local do final do séc. XIX.

      Eliminar