A Mina do Azeiche fica localizada a Sul da praia de Paredes da Vitória. O seu nome, provavelmente, deriva da localização de uma mina de asfalto.
A mina propriamente dita, tem o seu início em 1844 com a descoberta de uma mina de asfalto. É nesta mina que se vão realizar as primeiras explorações petrolíferas em Portugal. A primeira concessão, para a exploração de produtos betuminosos data de 1848, prolongando-se até 1861, embora a exploração ocorresse de forma irregular. Durante esse curto período, foi do Canto do Azeche (designação, à altura, do lugar) que foi extraído o betume utilizado para asfaltar todas as estações de caminho-de-ferro de Lisboa até Elvas e do Entroncamento até ao Porto. A reduzida viabilidade económica traduziu-se no seu encerramento.
Ainda durante o início da década de 1990 era possível aceder ao interior da mina, apesar dos evidentes sinais de derrocada. A entrada da mina dava acesso a um túnel que conduzia ao “poço”. O acesso ao fundo deste poço, onde era extraído o asfalto, era feito através de uma escada em caracol.
A localização da mina, quase na base da vertente; os materiais geológicos aí existentes (arenitos e complexos margo-argilosos); e a forte acção do mar do mar sobre a base da arriba contribuíram, definitivamente, para que a mina acabasse por desabar.
No entanto, são ainda visíveis algumas ruínas da mina, assim como um antigo respiradouro.
No entanto, o interesse sobre estas arribas não termina com a mina de asfalto. Nestas arribas, que se estendem por mais de 2 km em direcção a Sul (Vale Furado), são visíveis afloramentos do Cretácio Inferior e Superior (145 a 65 milhões de anos) e do Terciário, depósitos esses normalmente associados à formação do Bom Sucesso. Estes depósitos assentam por discordância angular em calcários do Cretácico.
É neste conjunto de rochas com 92 milhões de anos que estão representados dois conjuntos separados por superfície de descontinuidade. O inferior, é constituído por conglomerados, arenitos e lutitos avermelhados, atinge 70m de espessura. O tecto das sequências corresponde a paleossolos carbonatados representados por níveis concrecionados. O conjunto está datado do Luteciano a Bartoniano inferior. Foram ali recolhidos fósseis de Iberosuchus macrodon (crocodilo), Paralophiodon cf. leptorhynchum (grupo de tapires) para além de outros crocodilos, quelónios e pequenos mamíferos não identificados.
Os níveis superiores são constituídos por arenitos amarelos, geralmente grosseiros, às vezes consolidados, atingindo 40m de espessura. Forneceram fósseis de Paranchilophus lusitanicus (equídeo). Estão atribuídos ao Bartoniano superior.
Geologicamente aflora nas arribas um complexo greso-argiloso, onde sobressaem níveis argilosos vermelhos.
Ainda nestas arribas é possível identificar diversas anomalias geológicas petrográficas e químicas, nomeadamente vestígios de fragmentos de uma rocha escura que foram identificados por geólogos como resultantes do impacto de um grande meteorito, que ao colidir com a superfície terrestre terá formado uma grande cratera de impacto, conhecida como “Cratera de Thor”, e ejectado fragmentos pelas regiões periféricas.
São estes fragmentados ejectados, de cor negra, que aparecem destacados em rochas calcárias de cor clara, nas arribas da Mina do Azeiche e Valinhos (mas também, em menor quantidade, na praia das Paredes da Vitória e Vale Furado). De acordo com algumas investigações, estes vestígios, conhecidos como o “ejecta”, terão sido provenientes deste impacto. A presença de uma anomalia de Irídio – uma elevada concentração deste elemento encontrado na transição do Cenomaniano-Turaniano – é prova de um mega impacto de um meteorito de grandes dimensões, que terá tido consequências tão gravosas que terão provocado uma série de acontecimentos que culminaram na extinção de uma grande número de espécies, incluindo a conhecida extinção dos dinossáurios, no final do Cretácico. O alinhamento do afloramento destes vestígios do “ejecta” na direcção da mega “Cratera de Thor”, e o facto de apresentarem uma estrutura microcristalina típica de condições de forte impacto, constituem, de acordo com alguns geólogos, argumentos que apoiam a teoria de que estes fragmentos, são provenientes do mega impacto meteorítico que vieram a provocar a extinção dos dinossáurios.
Os vestígios desta cratera são bem visíveis no fundo oceânico, correspondendo a uma montanha marinha denominada Torre que têm uma forma elíptica com 122 Km de extensão segundo o eixo maior e 86 Km segundo o eixo menor.
Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com
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-parabens! bom trabalho. tanta história aqui tão perto.
ResponderEliminargrande mestre!gracias pela lição.vou copiar e relevar no unir e na reunião de câmara...
ResponderEliminaragradeço que te pronuncies sobre o canhão da nazaré, que tb passa no teu mar pataiense!!!
aquel'abRRaço
Depois dos conteúdos para o paredesdavitoria.com e saomartinhoporto.pt mais um excelente trabalho. quando é que pensas em publicar? Ou a junta, porque não és da cor nem da familia, não ajuda?
ResponderEliminarUm excelente trabalho fizeram os Professores Doutores J. F. Monteiro; A, Ribeiro; J. Munhá; P. E. Fonseca; J. Brandão Silva; C. Moita e A. Galopim de Carvalho, que com grande pena não vi referidos neste pequeno apontamento que aqui trouxe.
ResponderEliminarQuanto há necessidade de publicação, é uma questão que não se coloca, uma vez que os trabalhos já estão publicados.
Aqui fica a indicação dos verdadeiros autores do estudo em questão.
Com os meus agradecimentos, José Luís Silva.
Interesantísmo. Muchas gracias
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