Da Vila e Igreja das Paredes
Em a antiga Vila das Paredes, que também era da jurisdição de Leiria, havia Igreja Paroquial, orago de Nossa Senhora da Vitória; e ainda de presente se conserva a capela em Ermida e a sacristia, que devotos mandaram reparar, e se vêem as ruínas do corpo da Igreja junto dela. Os moradores da Vila apresentavam capelão; a imagem da Senhora de vulto, que é a mesma que está na Ermida, e se lhe fazia festa todos os anos.
Esta vila era muito antiga (1), e quando foi a aclamação de El-Rei D. João o 1º, na notificação que se fez para as cortes, veio carta para a Câmara da dita Vila, porque a acharam no Arquivo da Torre do Tombo. Tinha Porto e Baía, que também andava na carta de marear; os dízimos dela e de seu Distrito eram do Prior-Mor de Santa Cruz e dos beneficiados de Leiria, ainda o peixe que aí se pescasse ou mandasse pescar.
Teve sentença contra o Convento de Alcobaça para lhe haverem de pagar dízimo, e o dízimo do pescado; a qual está em um livro intitulado Das cartas, e papeis pertencentes ao Bispado, a fl.45, no Cartório Episcopal, porque a doação que fez ao dito Convento de Alcobaça El-Rei D. Fernando, foi desta Vila com todas as suas rendas e senhorio, no secular somente, e foi no ano de 1367, para seis capelães, que deixou El-Rei D. Pedro, seu Pai, para sempre no dito Convento, aonde está sepultado.
Esta Vila se despovoou porque se descobriu grande penedia na Baía, com o que não podiam vir a ela embarcações, nem sair dela, e, por isto e pelas muitas areias que choviam nas casas e as entulhavam, se despovoou, e ainda se estão vendo muitas ruínas de paredes, posto que quase todas cobertas de areia; tinha muitas vinhas e pomares no vale que corre ao pé da Vila, que era muito fresco e alegre, e sempre, depois de despovoada a vila, foi sítio muito continuado, por ser muito acomodado para pescaria e de muita caça; e ainda tem moinhos, e nas suas areias está um sítio que chama as Vinhas (2).
(1) Esta vila, segundo escreve e prova com documentos Fr. Agostinho de Santa Maria, no Santuario Mariano, foi fundada em 1286 por El-Rei D. Dinis, o qual, estando em Coimbra, passou carta de povoação a 28 de Outubro do dito ano para trinta moradores, impondo-lhes a obrigação de terem sempre preparadas ao menos seis caravelas para pescaria; a lhes mandou dar, para que acomodassem em sua casa, um moio de trigo a cada um. Foi em grande aumento até ao reinado de D. Manuel. Em suas ruínas têm construído casas, para os tempos de banhos, vários indivíduos de Pataias, Juncal, Batalha e de outras partes.
P. António Ferreira Louro
(2) Segundo o testemunho de um morador desta praia, descobriu aqui o mar, em 1858, com pequena diferença, a campa de uma sepultura que ele mesmo tinha enterrado; e que foi então trazida para o cemitério de Pataias, onde se vê, direita. É de tamanho natural, cobre-a quase toda uma rede gravada, cuja boca talvez finja ser um barco. Tem em gótico um epitáfio já um tanto safado. Pessoa havida por competente leu-a por: Esta é a sepultura de Julia Gomes, que faleceu na era de Cristo, mil.
Capítulo 89º do Couseiro ou Memória do Bispado de Leiria, 1868
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