Para sugestões, comentários, críticas e afins: sapinhogelasio@gmail.com

domingo, 5 de junho de 2011

A Regeneração Urbana - 2/4

A regeneração urbana - Contexto histórico

Apesar de algumas intervenções urbanas de grande escala anteriores a 1970, nomeadamente nos EUA, o conceito de regeneração urbana desenvolve-se na segunda metade da década de 1970.
Em 1970, a sociedade ocidental era profundamente marcada por uma industrialização assente em grandes complexos industriais localizados nas grandes áreas urbanas. Apesar das vantagens inerentes pelas economias de escala e pela disponibilidade da mão-de-obra, para o cidadão esta era uma realidade penosa, dadas as cada vez maiores distâncias entre os locais de residência (na periferia) e de trabalho (no centro).
O choque petrolífero de 1973-74, devido ao aumento do preço do petróleo, vai conduzir o modelo de crescimento económico vigente a um ponto de ruptura e colocar em causa o próprio modelo social e político. As indústrias tradicionais vão à falência e há um processo de desindustrialização das cidades. As indústrias que sobrevivem, procuram outros locais, mais baratos, mais acessíveis em termos de transportes, sem a pressão da população sobre a qualidade ambiental.
Esta deslocalização industrial vai deixar áreas livres e desocupadas dentro da cidade, o que será uma oportunidade para a intervenção urbana.

Na Europa, paralelamente a este processo de desindustrialização das cidades, assiste-se a um novo realinhamento do pensamento político. Num período em que o cenário da Guerra Fria começa a desanuviar, a Inglaterra assume algum protagonismo, com uma ideologia de direita, relativamente inovadora, que apresentava o neoliberalismo (o indivíduo, a liberdade de escolha, o mercado livre, o mimetismo do intervencionismo do Estado) e o neoconservadorismo (a autoridade, a tradição, a estabilidade, a moralidade e a ordem), como principais bandeiras.
Esta nova postura e ideias sobre o papel da intervenção do Estado vai permitir a redescoberta do sector privado. Isto significa que o mesmo será atraído para investir em projectos de intervenção urbana e assumir a responsabilidade financeira dos mesmos. Responsabilidade financeira que o Estado já não tem capacidade de assegurar, fruto da desagregação do modelo económico, baseado no petróleo e nos grandes complexos industriais, até então vigente.
O Estado, o poder público, é assim equiparado e posto em pé de igualdade com qualquer outro agente. Deixa de ser o árbitro e a sua eficiência é vista numa perspectiva economicista e não social. O seu papel e a sua capacidade de intervenção tendem a reduzir-se e limita-se, cada vez mais, a fornecer serviços. O sector privado opera caca vez mais de forma mais livre e tende a controlar o ritmo e a natureza das operações.
Esta nova realidade tem consequência também ao nível do planeamento. O planeamento tradicional (recorrendo ao zonamento e excessivamente regulamentador) resultante do crescimento urbano torna difícil estas novas estratégias. O apelo à complexidade emergente conduz à descentralização, ao planeamento sectorial e espacial, ao reforço do poder local e regional, à participação.
Esta nova realidade vai favorecer as grandes cidades, pois são elas que continuam a ter a maior capacidade de atrair investimento. Mas nem sempre as cidades possuem uma identidade forte, sendo necessário produzir uma imagem que atraia investimento. E é esta nova realidade, a produção de uma imagem da cidade capaz de atrair investimento privado, a criação de um “marketing de lugar”, o criar uma imagem que distinga “aquela” cidade das outras que estará na base da regeneração urbana.

Sem comentários:

Enviar um comentário