A desclassificação das estradas nacionais e a requalificação do espaço urbano. O caso da EN242 em Pataias, Alcobaça (6/6)
O processo de desclassificação de estradas nacionais insere-se num conjunto de estratégias e políticas que visam autonomizar e assegurar um maior eficácia e eficiência na gestão da rede rodoviária nacional e, principalmente, regional e local.
Estes processos de desclassificação têm sido concretizados de forma singular, tratando cada caso como um caso. No entanto, apesar desta singularidade, há linhas comuns de acção. A cada processo de desclassificação corresponde uma protocolo e a respectiva transferência de verbas entre o Estado Central e as Autarquias. Regra geral, o Estado compromete-se em deixar as vias em óptimas condições de circulação e ainda a uma renda anual destinada à manutenção da mesma. Neste caso, como vimos, as transferências de verbas podem significar valores de 3 milhões de euros em 10 anos.
Em muitos dos casos, quando essa desclassificação inclui o atravessamento de núcleos urbanos, têm sido construídas variantes/ circulares exteriores e feitos projectos de requalificação urbana das vias, no interior das povoações.
As variantes têm sido equacionadas quando o tráfego é classificado como elevado (simultaneamente, mais de 10000 veículos ligeiros/dia e mais de 1000 veículos pesados/dia). O troço em causa apresenta um total aproximado de 11500 veículos/dia.
Quanto aos projectos de requalificação, estes têm procurado aumentar a qualidade e paisagem urbana, promover a qualidade-de-vida e bem-estar dos residentes, devolver o centro da cidade aos peões, fazer desaparecer o tráfego de atravessamento.
Este caso de desclassificação é também singular, não só porque tendo o atravessamento de um núcleo urbano (com cerca de 4000 habitantes), não só não está prevista a construção de uma circular (apesar dos valores de tráfego), como no projecto de requalificação continua a imperar a lógica de dar primazia ao tráfego de atravessamento em detrimento do tráfego local e das pessoas.
Em suma, as propostas apresentadas visam apenas garantir a fluidez do tráfego regional, estrangulando o trânsito local, limitando os passeios e diminuindo o estacionamento. Numa época em que as políticas urbanas e de transportes tentam minimizar o impacto do automóvel nos centros urbanos, a solução proposta é a antítese da contemporaneidade. O peão, o espaço urbano e a vivência local são sacrificados em função do automóvel e do tráfego de atravessamento, que será cada vez mais intenso.
Parabéns por esta excelente série de artigos que constituem uma intervenção cívica de grande qualidade, sobre um assunto de relevante interesse local.
ResponderEliminarBom trabalho no seguimento de outros já aqui deixados. Que sirva de exemplo para que mais trabalhos apareçam, vamos por a formação ao serviço da nossa terra.
ResponderEliminarÀrrã da Lagoa